www.interplast.pt 2024/4 23 Preço:11 € | Periodicidade: Trimestral | Outubro, Novembro, Dezembro 2024 - Nº 23 | www.interplast.pt OLHE PARA O FUTURO COM A NOVA LINHA NRG LASER PARA SOLDADURA DE PLÁSTICOS DA DUKANE Esta nova linha permite uma inovação incrível e criatividade personalizada como nunca antes. Gerador IQ AUTO Gerador AiM Controlo preciso + indústria 4.0 Gama Infinity Máquina Servo X1 Processo de soldadura multicanal www.dukane.com Alberto CORREIA Tm: (+351) 934 906 895 acorreia@dukane.com Tiago FERRAZ Tm: (+351) 915 279 601 tiago.ferraz@wondermac.pt NRG ™
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SUMÁRIO Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Avenida Defensores de Chaves, 15, 3.º F 1000-109 Lisboa (Portugal) Telefone (+351) 215 935 154 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Grupo Interempresas Media, S.L. (100%) Diretora Luísa Santos Equipa Editorial Luísa Santos, Esther Güell, Nerea Gorriti redacao_interplast@interempresas.net www.interplast.pt Preço de cada exemplar 11 € (IVA incl.) Assinatura anual 44 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127297 Déposito Legal 455414/19 Distribuição total +2.000 envios. Distribuição digital a +1.300 profissionais. Tiragem +700 cópias em papel. Edição Nº 23 – Outubro, Novembro, Dezembro 2024 Estatuto Editorial disponível em https://www.interplast.pt/EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Lidergraf Rua do Galhano, n.º 15 4480-089 Vila do Conde, Portugal www.lidergraf.eu Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da InterPLAST adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. ATUALIDADE 4 EDITORIAL 5 Perda de competitividade da UE ameaça a transição para um ecossistema circular 10 Plastics Summit Global Event regressa em 2025 com objetivos ambiciosos 12 Entrevista com João Faustino, presidente da Associação Nacional da Indústria de Moldes (Cefamol) 16 Circularidade dos plásticos no setor automóvel: o desafio das metas europeias para a indústria portuguesa 22 Novos materiais de base biológica melhoram a circularidade de produtos complexos multimaterial 26 ‘Couro’ de cânhamo industrial: um material inovador e sustentável para o interior dos automóveis do futuro 28 O contributo dos polímeros e compósitos para uma mobilidade mais sustentável 30 KraussMaffei eleva o revestimento no molde a um novo patamar 38 Domo desenvolve ferramenta de simulação que prevê efeitos dos líquidos refrigerantes nas peças de poliamida 40 “Na nossa atividade, o contacto direto e a proximidade ao cliente são fundamentais” 42 Comparação de tecnologias: soldadura a laser vs. soldadura por placa quente na iluminação automóvel 46 ARaymond moderniza a sua produção automóvel com tecnologia ‘Smart Factory’ e máquinas IntElect da Sumitomo Demag 52 Injeção elétrica da Engel na Fakuma 2024 54 Nova Allrounder 720 E Golden Electric: design compacto e desempenho avançado 56 Máquinas elétricas vs. híbridas: a era da eficiência energética 58 Prolongue a vida útil da sua máquina de injeção 60 Elastómeros termoplásticos otimizados para as novas exigências do mercado 62 Bio-Fed lança nova linha de compostos de base biológica e com equilíbrio de biomassa 64 Stratasys e BASF desenvolvem novo PP de alta performance para impressão 3D 65
4 MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.INTERPLAST.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER ATUALIDADE Projeto ReBioCycle explora novas soluções de reciclagem e upcycling para bioplásticos No âmbito do novo projeto ReBioCycle, financiado pela UE, serão instalados três centros de reciclagem de bioplásticos nos Países Baixos, Itália, Espanha e, em parte, na Irlanda, equipados com diferentes tecnologias, da reciclagem mecânica, à química, enzimática e microbiana. A European Bioplastics e os seus membros, incluindo o instituto Aimplas, a TotalEnergies Corbion, a Novamont, a Corbion, a Sulapac e a Kaneka, estão entre os 20 parceiros que uniram forças para desenvolver e implementar “um novo projeto europeu para soluções circulares de reciclagem de bioplásticos”, sob a liderança da University College Dublin e do Centro de Investigação SFI BiOrbic Bioeconomy. Numa escala de demonstração e no ambiente operacional real para a reciclagem eficaz e eficiente de três tipos de bioplásticos - PLA, PHA e compósitos -, o projeto visa demonstrar o impacto acrescido da obtenção de polímeros reciclados de grau igual ou superior em aplicações de maior valor. Petcore Europe 2025 debate desafios da cadeia de valor do PET A conferência anual da Petcore Europe irá decorrer de 4 a 5 de fevereiro de 2025, em Bruxelas, centrada no tema ‘O papel crítico da inovação e da inteligência artificial no restabelecimento da competitividade da UE’. De acordo com a organização, o evento irá reunir os principais intervenientes de toda a cadeia de valor do PET e abordar os principais desafios da transição para um modelo circular, em conformidade com os objetivos europeus. Serão também relatados casos de êxito já implementados na indústria. Entre os intervenientes, estarão representantes das instituições da UE e da indústria, que irão abordar temas como a circularidade, a evolução tecnológica, as alterações regulamentares e os desafios da competitividade. Haverá também lugar para sessões técnicas e uma sessão de perguntas e respostas onde os participantes poderão partilhar os seus pontos de vista e colocar questões em tempo real. A conferência Petcore Europe 2025 realizar-se no Hotel Le Plaza, em Bruxelas, com tarifas especiais para quem necessitar de alojamento. Para mais informações e registo, visite: www.petcoreeuropeannualconference.org.
5 K 2025: 'The Power of Plastics! Green – Smart – Responsible' Os preparativos para a K 2025, que irá decorrer de 8 a 15 de outubro de 2025, em Düsseldorf, estão a decorrer a todo o vapor e o espaço de exposição já está totalmente reservado. A organização anunciou que está a preparar uma série de eventos paralelos à exposição, focados no tema escolhido para esta edição: 'The Power of Plastics! Green – Smart – Responsible'. A K 2025 irá centrar-se nas tendências e inovações em torno dos temas da Economia Circular, Digitalização, bem como na responsabilidade para com as pessoas e o ambiente. Estes serão debatidos em diversos eventos especiais, dos quais se destaca a conferência ‘Plastics shape the Future’, organizada pela Plastics Europe Deutschland. A VDMA [Associação Alemã de Fabricantes de Máquinas e Instalações] voltará a apresentar um fórum alargado na área exterior da feira,, desta vez sob o título ‘O Poder dos Plásticos’. Tal como na edição anterior, a K 2025 terá uma área de exposição dedicada às empresas recém-criadas que estejam particularmente empenhadas no desenvolvimento de produtos e soluções inovadores no domínio dos plásticos e da borracha. As start-ups interessadas ainda podem inscrever-se. No Science Campus, universidades, escolas e institutos apresentarão os resultados da sua investigação no domínio dos plásticos. Além disso, está a ser desenvolvida uma nova oferta para jovens profissionais, a fim de lhes dar uma visão da diversidade e da atratividade da indústria. Será também organizado um evento especial de networking para as mulheres do setor. EDITORIAL Em 2023, a produção de plásticos na Europa diminuiu 8,3%. A notícia, divulgada este mês pela Plastics Europe, revela uma conjuntura menos favorável que o esperado, agravada por uma novidade: pela primeira vez, a quantidade de plástico reciclado mecanicamente no continente europeu também diminuiu. Estes dados são especialmente preocupantes porque põem em causa os objetivos de circularidade estabelecidos pela União Europeia. Sem uma indústria de reciclagem interna forte, os transformadores de plásticos europeus, obrigados a incluir reciclado nas novas peças, passam a depender de fornecedores de fora da UE, que, muitas vezes, não cumprem os critérios de rastreabilidade e qualidade exigidos. A associação europeia considera, por isso, que é urgente estabelecer novas medidas como “a aceitação do balanço de massa e de tecnologias de reciclagem inovadoras, como a reciclagem química; a simplificação dos procedimentos de licenciamento para instalações industriais circulares com baixo teor de carbono; bem como sistemas de controlo e certificação para garantir que as importações cumprem as normas da UE”. Um tema que abordamos em detalhe na página 10 desta revista. A indústria automóvel é uma das afetadas por esta situação, principalmente considerando a proposta da UE que prevê a incorporação de 25% de plástico reciclado nos novos veículos até 2030, com pelo menos 25% deste material proveniente de veículos em fim de vida, e a reciclagem de 30% do plástico recolhido. Em entrevista à InterPlast, Gonçalo Tomé, vice-presidente da APIP, defende que para garantirmos a quantidade e qualidade de reciclado necessário é crucial limitar a exportação de veículos em fim de vida para fora da Europa e melhorar a triagem e separação seletiva de materiais no abate dos mesmos. Um texto para ler na página 22. O setor automóvel é, de resto, um dos que mais tem sofrido nos últimos anos. A demora na transição energética afeta toda a cadeia de valor, incluindo os fabricantes de moldes nacionais. Na página 16, João Faustino, presidente da Cefamol, explica-nos a dimensão do desafio e deixa uma forte crítica a alguns organismos públicos que, como diz, estão a apoiar as importações de automóveis fabricados na China, principal concorrente dos fabricantes europeus. Nesta edição, divulgamos ainda projetos interessantes relacionados com o desenvolvimento de novos biomateriais para aplicação automóvel, bem como tecnologias que prometem aumentar a eficiência do processo de produção e assemblagem de peças para este segmento. Falamos, por exemplo, das máquinas de injeção elétricas e dos equipamentos de soldadura de plásticos, muito usados neste mercado. Esta é a nossa última edição de 2024. Regressamos no próximo ano com mais novidades sobre e para a indústria de plásticos. Até lá, acompanhe a atualidade do setor em www.interplast.pt. É urgente reciclar!
6 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.INTERPLAST.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Exportações de componentes automóveis registam queda de 4,4% em setembro Segundo dados divulgados pela Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), as exportações portuguesas de componentes automóveis caíram 4,4% em setembro, em relação ao período homólogo. Assim, no mês referido, o valor das exportações de componentes automóveis situou-se nos 1.000 milhões de euros, representando 14,7% no total das exportações de bens transacionáveis de Portugal. Já no que se refere ao acumulado até setembro, estas exportações atingiram cerca de 8.800 milhões de euros, o que corresponde a uma diminuição de 3,9% face ao período homólogo. A Europa permanece o principal destino das exportações portuguesas de componentes automóveis, representando 88,5% das vendas internacionais. No acumulado de 2024, as exportações para o mercado europeu registaram uma queda de 4,6% face ao mesmo período de 2023. Espanha continua a manter-se como o maior comprador, absorvendo 28,0% dos componentes fabricados em Portugal, seguida pela Alemanha (23,9%) e França (8,2%). A AFIA destaca ainda que a redução registada em setembro é menos pronunciada do que a verificada em agosto (5,4%). Este ligeiro abrandamento na queda pode indicar uma esperança na estabilização do mercado, embora o setor continue a enfrentar desafios significativos num contexto económico global complicado. GreenPlast 2025: um futuro sustentável para os plásticos ao abrigo da nova legislação europeia A feira internacional GreenPlast 2025, dedicada a materiais, tecnologias e processos de transformação de plásticos e borracha com foco na sustentabilidade ambiental e eficiência energética, terá lugar em Milão de 27 a 30 de maio de 2025, na Fiera Milano, Rho Pero. Este evento reunirá profissionais, empresas e instituições comprometidas com os desafios ambientais num contexto de legislação europeia cada vez mais exigente. Os regulamentos de sustentabilidade introduzidos nos últimos anos pela União Europeia afetam profundamente a indústria e exigem que o setor transformador se alinhe com rigorosos objetivos ecológicos. Esta transição envolve mudanças significativas, centradas nos pilares da economia circular dos plásticos; da reciclagem e recolha de resíduos; da redução dos plásticos de uso único; e do incentivo à inovação. Perante o desafio de cumprir as novas normas ambientais, a feira GreenPlast 2025 posiciona-se como um espaço único de diálogo e inovação no setor. Na próxima edição, expositores italianos e internacionais irão apresentar soluções tecnológicas de ponta e os seus mais recentes desenvolvimentos em matéria de eficiência energética, reciclagem de plásticos, tecnologias de triagem, processos de regeneração e materiais sustentáveis. Fonte: AFIA.
7 ATUALIDADE Academia PIEP lança novos cursos para capacitar a indústria nacional dos plásticos e promover a inovação A aposta no ecodesign e em novos materiais mais sustentáveis são as novidades dos novos cursos que acabam de ser lançados, agora em regime híbrido. A Academia PIEP, o centro de formação empresarial criado pelo Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) em parceria com o Departamento de Engenharia de Polímeros da Universidade do Minho e com o apoio da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP), acaba de lançar três novos cursos com vista a responder às necessidades de formação da indústria nacional de plásticos e materiais compósitos. ‘Design e desenvolvimento de produtos termoplásticos’, ‘Troubleshooting para solucionar os problemas na moldação por injeção’ e ‘Formação avançada em materiais compósitos’, são os temas dos cursos que apresentam também a novidade de poderem ser realizados remotamente, de forma a evitar deslocações e ausências físicas do local de trabalho por longos períodos de tempo. Para mais informações, consulte o portal academia.piep.pt Albis comercializa policarbonatos reciclados da Covestro As duas empresas assinaram um acordo de distribuição que permite à Albis aumentar a sua carteira de materiais sustentáveis. A Covestro apresentou recentemente a sua nova gama de plásticos de engenharia sustentáveis, com o objetivo de promover a transição para uma economia circular. A empresa desenvolveu soluções inovadoras que, garante, “têm menos impacto no ambiente em comparação com os plásticos convencionais”. A Albis será agora responsável pela comercialização do portefólio R da Covestro, composto por policarbonatos reciclados mecanicamente pós-consumo (PCR) e pós-industriais (PIR), bem como por misturas de policarbonatos reciclados. O acordo de distribuição abrange a Europa, o Norte de África, a China e o Sudeste Asiático. 16382_anuncio_interplast_210x68.pdf 1 28/01/22 10:25
8 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.INTERPLAST.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Fabrico italiano de máquinas para plástico e borracha dá sinais de abrandamento Cada europeu produz 186,5 kg de resíduos de embalagem Portugal está ligeiramente acima da média, sendo produzidos 188,08 kg de resíduos de embalagem por habitante. Dados divulgados pelo Eurostat em outubro revelam que, em 2022, a União Europeia produziu 83,4 milhões de toneladas de resíduos de embalagens. Este valor significa que cada habitante produziu, em média, 186,5 kg durante esse ano. Em comparação com 2021, este valor representa uma diminuição de 3,6 kg por habitante, mas um aumento de 31,7 kg em comparação com 2012. Em Portugal, no mesmo período, foram produzidos 188,08 kg por habitante, o que compara com 176,74 kg em 2021 e 149,1 kg em 2013. No total, Portugal produziu 1,96 milhões de toneladas de resíduos de embalagem, comparado com 1,83 milhões de toneladas em 2021 e 1,56 milhões de toneladas em 2013. Em 2022, foi gerada uma média de 36,1 kg de resíduos de embalagens de plástico por cada pessoa que vive na UE e, destes, 14,7 kg foram reciclados. Em Portugal, esse volume foi de 43,31 kg por habitante, sendo que 16,7 kg foram reciclados. Os dados do comércio externo italiano de máquinas e moldes para plásticos e borracha referentes ao primeiro semestre de 2024 revelam uma queda progressiva, em comparação com o mesmo período de 2023. De acordo com a associação italiana Amaplast, o primeiro semestre de 2024 terminou com as exportações ainda em valores positivos (+2,5% atingindo 1,73 mil milhões de euros), mas com uma tendência decrescente devido à menor procura de vários tipos de máquinas, incluindo algumas que representam uma grande parte do total, bem como de moldes. O período encerrou com uma quebra de 12 pontos percentuais, com um valor de 483 milhões de euros, destacando-se a queda das importações dos três principais países fornecedores: Alemanha, China e Áustria. As exportações para a Alemanha, o principal parceiro histórico dos fabricantes italianos, que enfrenta atualmente uma situação económica desfavorável e um contexto político complicado, foram bastante medíocres. As exportações para os Estados Unidos, o segundo maior mercado de destino, embora se tenham mantido a níveis elevados nos últimos anos, registaram algum abrandamento. Entre os dez principais mercados de destino, observam-se tendências opostas. As exportações para os países da UE deste grupo, como a Espanha, a Polónia e a França, diminuíram 13% e 32%, enquanto em França se mantiveram praticamente estáveis. Em contrapartida, registou-se um crescimento de dois dígitos em vários mercados fora da UE: +26% no México, +36% na China, +50% na Turquia, +22% na Índia e +24% no Reino Unido.
9 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.INTERPLAST.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Estão abertas as candidaturas ao concurso manus 2025 da igus Tem uma aplicação interessante com casquilhos deslizantes em plástico da igus? Já pode candidatar-se à 12ª edição dos prémios manus 2025. A iniciativa da empresa alemã atribui às aplicações mais criativas um prémio monetário de até cinco mil euros. São aceites todas as candidaturas com casquilhos, casquilhos lineares e chumaceiras esféricas feitas de plástico sólido ou compostos de plástico. Deve estar disponível, pelo menos, uma versão funcional do dispositivo, na qual os benefícios técnicos, bem como as vantagens ecológicas e económicas dos casquilhos em plástico possam ser reconhecidos. Os vencedores são escolhidos por um júri independente, composto por peritos da investigação, da imprensa especializada e da indústria. Os jurados dão especial importância à criatividade e à inovação, que podem levar a classificações elevadas. O prazo para as candidaturas termina a 17 de janeiro de 2025. Hasco otimiza logística A empresa sediada em Lüdenscheid investiu num moderno armazém automatizado de peças pequenas, que funciona de acordo com o conceito SOL (Speed of Logistics). No armazém, os robôs de alta tecnologia operam num sistema de percursos angulares, geridos por um controlo numérico inteligente (NC), que permite uma operação contínua e autónoma. Estes robôs estão programados para trabalhar ininterruptamente, recarregando automaticamente em estações integradas durante os períodos de inatividade. O sistema, distribuído em vários níveis, representa uma reinterpretação da logística na Hasco sob o conceito SOL. O novo armazém tem uma capacidade de 24.000 caixas, cada uma com um peso até 35 kg. Um total de 20 robôs trata das tarefas logísticas, processando até 720 itens por hora através de quatro estações de expedição, conhecidas como ‘portos’. Graças a este sistema, no último ano a Hasco alcançou uma taxa de disponibilidade de quase 100% em todo o seu portefólio de produtos, respondendo assim às exigências dos seus clientes de forma rápida e precisa, com prioridade à segurança, eficiência e pontualidade nas suas entregas. Serviço online de Impressão 3D Duração de vida até 50 vezes superior à dos materiais convencionais Componentes prontos em 3 dias igus® Portugal R. Eng. Ezequiel de Campos 239 4100-232 Porto Tel. 226 109 000 (Chamada para a rede fixa nacional) info@igus.pt motion plastics® /idd PT-13xx-Online 3D printing service 85x125_CC (GS).indd 1 18.09.24 09:20
10 ANÁLISE DE MERCADO Perda de competitividade da UE ameaça a transição para um ecossistema circular O relatório ‘Plastics - the fast Facts 2024’, divulgado este mês pela Plastics Europe, revela uma queda mais acentuada do que o esperado na produção de plásticos na Europa e, pela primeira vez, um declínio na produção de plásticos reciclados mecanicamente. Os dados referem-se a 2023. Em comparação com 2022, a produção total de plásticos na União Europeia (UE) registou uma queda acentuada de 8,3%, para 54 milhões de toneladas, com a produção de plásticos reciclados mecanicamente a partir de resíduos pós-consumo a cair também 7,8%, para 7,1 milhões de toneladas. Estes números contrastam com um aumento global da produção de plásticos de 3,4%. Consequentemente, a quota da Europa no mercado mundial diminuiu ainda mais, para 12%. Embora a Europa tenha mantido uma balança comercial positiva em termos de valor, em termos de tonelagem, tornou-se um importador líquido de matérias-primas plásticas em 2022 e de produtos plásticos em 2021. Além disso, as exportações de matérias-primas plásticas diminuíram 25,4% entre 2020 e 2023. A erosão da competitividade europeia ameaça a transição da indústria dos plásticos para um modelo circular. Os plásticos são essenciais para a economia europeia, abastecendo várias indústrias com aplicações em quase todos os setores, como a saúde, a indústria automóvel, a construção, a eletrónica, as infraestruturas renováveis, os bens de consumo e as embalagens. Esta mudança ameaça a viabilidade da cadeia de valor europeia dos plásticos, que emprega atualmente mais de 1,5 milhões de pessoas em 51.700 empresas e que gerou mais de 365 mil milhões de euros de volume de negócios na UE em 2023. Sem um quadro competitivo, a Europa corre o risco de perder a sua liderança na inovação sustentável no domínio dos plásticos, bem como os benefícios económicos e ambientais que daí advêm. Para Marco ten Bruggencate, presidente da Plastics Europe e da Dow EMEAI, “a transformação para um ecossistema circular dos plásticos na Europa está seriamente ameaçada devido à quantidade de plásticos importados, que nem sempre cumprem as normas da UE. A dura realidade é que já há unida-
11 ANÁLISE DE MERCADO des de produção a fechar na Europa, com a consequente deslocalização da indústria, dos postos de trabalho e dos investimentos sustentáveis. A transição para a circularidade só se tornará uma realidade se os decisores políticos aplicarem urgentemente as medidas necessárias para restaurar a nossa competitividade. Medidas que também ofereçam uma perspetiva atrativa a longo prazo para os investimentos em circularidade. As oportunidades são escassas e agora é o momento de agir com coragem”. Na mesma linha, Virginia Janssens, diretora-geral da Plastics Europe, considera que, “para evitar um abrandamento preocupante da transição na Europa, precisamos de medidas urgentes que tornem mais atrativos os investimentos na produção de plásticos circulares; que reduzam a burocracia causada, por exemplo, por procedimentos de licenciamento excessivamente longos, criando ao mesmo tempo condições de concorrência equitativas com os nossos concorrentes internacionais. Apesar dos desafios, continuamos totalmente empenhados em progredir no sentido das nossas ambições de circularidade e de zero emissões líquidas, tal como estabelecido no nosso roteiro 'A Transição dos Plásticos'. Precisamos que os decisores políticos da UE e dos Estados-Membros enviem uma mensagem clara e imediata aos investidores e aos mercados de que também continuam empenhados na produção de plásticos na Europa e no nosso percurso de transformação”. AUMENTO DAS IMPORTAÇÕES CONSTITUI UMA AMEAÇA A Plastics Europe sublinha que a diminuição da reciclagem na Europa está relacionada com o forte aumento das importações de matérias-primas plásticas e produtos acabados de regiões com padrões ambientais mais baixos, causado pela sobrecapacidade global na produção de plásticos. Simultaneamente, os produtores de plásticos europeu continuam a enfrentar custos de produção elevados devido aos altos preços da energia e das matérias-primas, à inflação persistente e à disponibilidade limitada de matérias-primas circulares. Esta situação coincide com o fraco crescimento europeu e a recessão em algumas economias e setores importantes. Apesar de tudo, a Europa mantém a maior quota de plásticos circulares em relação à sua produção total, com 14,8%. No entanto, o aumento de 0,7% desde 2022 representa uma tendência de abrandamento e fica aquém do crescimento necessário para cumprir as ambições do roteiro para a transição dos plásticos. Além do declínio na produção de reciclagem mecânica, em 2023 apenas foram recicladas quimicamente 0,12 milhões de toneladas de plástico. A produção de plásticos de base biológica e bioatribuídos aumentou ligeiramente para 0,8 milhões de toneladas. MEDIDAS PROPOSTAS PELA PLASTICS EUROPE A Plastics Europe considera que, para reverter esta situação, o quadro regulamentar da UE deve incluir, por exemplo: metas obrigatórias ambiciosas para o conteúdo reciclado; a aceitação do balanço de massa e de tecnologias de reciclagem inovadoras, como a reciclagem química; a simplificação dos procedimentos de licenciamento para instalações industriais circulares com baixo teor de carbono, bem como sistemas de controlo e certificação para garantir que as importações cumprem as normas da UE. Além disso, é necessário avaliar as medidas fiscais e económicas, tanto europeias como nacionais, para tornar a produção de plásticos circulares na Europa competitiva com urgência. n Pode consultar o relatório 'Plastics the fast Facts 2024' em https://plasticseurope.org/es/knowledge-hub/ plastics-the-fast-facts-2024/ Fonte: Relatório 'Plastics - the fast Facts 2024', da Plastics Europe. Fonte: Relatório 'Plastics - the fast Facts 2024', da Plastics Europe.
12 EVENTOS Plastics Summit Global Event regressa em 2025 com objetivos ambiciosos A segunda edição do Plastics Summit Global Event vai realizar-se no dia 6 de outubro de 2025, na FIL, em Lisboa. O evento foi oficialmente apresentado pela Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP) no dia 9 de outubro, na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa. Luísa Santos A iniciativa da associação portuguesa em colaboração com as congéneres ANAIP (Espanha), ABIPLAST (Brasil) e ANIPAC A.C. (México) pretende atrair a Lisboa, alguns dias antes da K 2025, um número recorde de ‘stakeholders’ da cadeia de valor do plástico de todo mundo. Pedro Paes do Amaral, vice- -presidente executivo da APIP, acredita que, após o sucesso da última edição, que contou com mais de mil participantes, no próximo ano será possível juntar entre dois e três mil interessados. Cerca de 90 convidados assistiram ao lançamento do Plastics Summit Global Event 2025.
13 EVENTOS O responsável recordou que, em 2022, a iniciativa contou com 32 speakers de toda a cadeia de valor, das petroquímicas aos transformadores, recicladores, OMGs e sociedade civil. Em 2025, a estes juntam-se também os media, essenciais para ajudar a mudar o comportamento dos consumidores no que se refere aos resíduos, não só de plásticos, mas de todos os materiais. “Os media têm uma responsabilidade acrescida: é importante que tudo aquilo que se escreve seja averiguável e baseado em fontes fidedignas”, salientou o vice-presidente executivo da APIP. PRINCIPAIS TEMAS NO PSGE 2025 Nuno Aguiar, diretor técnico da APIP, apresentou os grandes temas do PSGE 2025. Em debate estará, naturalmente, a economia circular. “Muito tem sido feito para aumentar a circularidade dos plásticos, mas temos de continuar a trabalhar para fechar o círculo”, referiu o responsável, lembrando que há novidades no Regulamento relativo às embalagens e resíduos de embalagens, que representam novos desafios para toda a cadeia de valor. Será também debatido o caminho para a transição numa abordagem societal. “Os atuais padrões de consumo da sociedade, muitas vezes sem critério, constituem um desafio ambiental importante que é necessário abordar de forma holística”, defende Nuno Aguiar. A indústria e os desafios que esta enfrenta face às novas exigências regulamentares terão também espaço de debate no evento, tal como a regeneração dos ecossistemas, fundamental para dar resposta ao constante crescimento da população mundial, principalmente quando vemos a velocidade a que se esgotam os recursos naturais, salientou o diretor técnico da APIP. A estes grandes temas, Pedro Paes do Amaral acrescentou um outro: a paz e os impactos da guerra na sustentabilidade. Neste sentido, revelou que a APIP está em contacto com a tutela no sentido de “disponibilizar a indústria de moldes e plásticos portuguesa para que Portugal possa ser um importante parceiro da União Europeia na indústria da defesa”. O vice-presidente da APIP frisou, mais uma vez, a necessidade de trazer todos os intervenientes, a nível mundial, para o debate. “Não podemos continuar a ter regras diferentes consoante a geografia”, referindo-se à mais diversa normativa, do contacto alimentar, à cor dos sacos para recolha doméstica de resíduos, que mesmo dentro da Europa é diferente de país para país. “Não adianta a Europa querer ter uma política demasiado rígida, se o resto do mundo não acompanhar”, concluiu. COMUNICAÇÃO: FATORCHAVE PARA MUDAR MENTALIDADES O envolvimento direto dos media no PSGE 2025 foi o mote para a mesa Pedro Paes do Amaral destacou a importância da comunicação social no combate à desinformação relacionada com o tema dos resíduos de todos os materiais, não apenas dos plásticos. Nuno Aguiar, diretor técnico da APIP, apresentou os grandes temas do PSGE 2025.
14 EVENTOS redonda que se seguiu, dedicada ao tema ‘A Influência da (Des)Informação na Adoção de Comportamentos (In) Sustentáveis’, na qual participaram Elsa Agante, team leader da área de energia e sustentabilidade na DECO Proteste, Filipe de Botton, chairman da Logoplaste e Marta Moreira Marques, professora auxiliar na área de Ciência Comportamental da ENSP - Universidade Nova de Lisboa. Estudos indicam que “os consumidores querem informação e procuram escolhas sustentáveis”, começou por dizer Elsa Agante. No entanto, estão cada vez mais desconfiados das alegações ecológicas apregoadas pelas marcas e, por isso, “é fundamental comunicar sempre com base em dados científicos”. Marta Moreira Marques acrescentou que é importante adaptar a informação originada em contexto académico à comunicação com o grande público e adequar a mensagem aos diferentes públicos-alvo. Neste processo, “a transparência é crucial” e deve existir “uma relação próxima entre a academia e a comunicação social, de forma a ajudar os jornalistas a interpretar dados por vezes complexos”, salientou. Por outro lado, Filipe de Botton referiu a importância de fazer passar a mensagem através de meios imparciais e defendeu a urgência de se intensificarem as ações de lobby da indústria de plásticos junto das instituições europeias. “Hoje, o lobby, feito de forma transparente e assumida, é fundamental e nós não o fazemos suficientemente, provavelmente porque durante anos achámos que os plásticos eram tão essenciais que não valia a pena”, disse. O chairman da Logoplaste também considera que a comunicação deve besear-se sempre em dados científicos, nomeadamente em resultados de análises de ciclo de vida dos produtos. Frisou ainda a importância de passar para os meios de comunicação informaOs bilhetes para o evento serão colocados à venda a partir de 6 de janeiro de 2025. Mais detalhes em https://plasticssummit-globalevent.com/pt/psge/ ‘SUSTAINABLE PLASTICS’ NO PSGE 2025 O espaço reservado para o Plastics Summit Global Event 2025, com cerca de 5.000 m2, terá uma área dedicada à Agenda Mobilizadora ‘Sustainable Plastics’, onde serão apresentadas as conclusões desta iniciativa inovadora - apoiada pelo PRR com cerca de 39 milhões de euros -, bem como dos 16 projetos desenvolvidos no âmbito da mesma. Participam nesta Agenda 39 entidades do sistema empresarial e dez entidades do sistema científico. Elsa Agante, team leader da área de energia e sustentabilidade na DECO Proteste, Marta Moreira Marques, professora auxiliar na área de Ciência Comportamental da ENSP - Universidade Nova de Lisboa, e Filipe de Botton, chairman da Logoplaste, discutiram o tema ‘A Influência da (Des) Informação na Adoção de Comportamentos (In) Sustentáveis’. ção tão completa e credível quanto possível já que eles são as principais fontes que alimentam a inteligência artificial, uma tecnologia que, se não for bem alimentada e interpretada, pode ter um efeito negativo junto do público. n
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ENTREVISTA 16 JOÃO FAUSTINO, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE MOLDES (CEFAMOL) “O Estado deveria ser o primeiro a investir na indústria automóvel europeia, comprando carros elétricos fabricados na Europa e não na China” A braços com a crescente concorrência asiática, a indústria de moldes portuguesa atravessa um período desafiante, agravado pela conjuntura geopolítica que está a afetar alguns dos principais mercados das empresas nacionais. Uma tempestade perfeita, que irá certamente deixar mazelas num setor há muito habituado a navegar em águas turbulentas. Conversámos com João Faustino, presidente da Cefamol, para perceber a dimensão do problema e que medidas, na sua opinião, deveriam ser tomadas para apoiar o setor nesta fase. Luísa Santos
ENTREVISTA 17 Os últimos anos têm sido particularmente desafiantes para a indústria de moldes portuguesa. Como avalia a situação atual do setor e que fatores contribuíram para tal? Os problemas no setor começaram em 2018, com o ‘diesel gate’ nos Estados Unidos, que afetou os grandes construtores de automóveis, já que todos eles andavam a omitir a quantidade de CO2 que os seus carros emitiam para a atmosfera. Neste contexto, houve um senhor chamado Elon Musk, um verdadeiro génio, que se aproveitou da situação e decidiu aumentar a capacidade de produção de carros elétricos. Perante isto, as grandes OEMs começaram a questionar-se sobre qual seria, de facto, o tipo de veículo (a diesel, a gasolina, híbrido ou elétrico) que mais se ajustaria às necessidades reais do mercado, tendo em conta não só as exigências de redução de emissões de CO2, mas também a sua própria competitividade. A estratégia escolhida acabou por ser a de intensificar o fabrico de carros elétricos, o que, por si só, já foi uma má notícia para o setor dos moldes, porque estes veículos têm muito menos peças de plástico que os tradicionais. Mas, além disso, foi uma decisão tomada sem que se resolvesse antes a questão das infraestruturas de carregamento. Em consequência, as limitações de percurso levaram a uma retração no mercado, principalmente nos países de maior dimensão. Entretanto, veio a pandemia, que como sabemos permitiu à China aumentar ainda mais o seu poder económico. Resultado: existem, neste momento, marcas de automóveis elétricos chinesas que não existiam há dez anos e que, com o pouco tempo de vida que têm, já lançaram seis, sete, oito modelos diferentes. E com uma qualidade que, em alguns casos, não é inferior à dos carros europeus, com uma vantagem: o preço. Ou seja, neste momento temos dois problemas: por um lado, a enorme capacidade de produção de elétricos na China, com preços muito, muito atrativos e com uma tecnologia não inferior à europeia, e, por outro, a falta de competitividade dos fabricantes europeus. Ora, para onde for um carro chinês não vai um carro europeu. Isto vai trazer, com certeza, muitos desafios e dificuldades a todas as empresas que fazem parte deste ecossistema. Infelizmente, esta é e será a realidade. Uma conjuntura para a qual as empresas que usaram as verbas do Portugal 2020 para modernizar as suas fábricas não estavam preparadas… Na altura em que o Portugal 2020 foi lançado nós estávamos a crescer a dois dígitos. Todos os estudos indicavam que os anos seguintes trariam um aumento das vendas, do emprego, de solvabilidade financeira. Tudo apontava para haver cada vez mais atividade e, portanto, as empresas portuguesas fizeram o que deviam fazer para não perder competitividade e aumentar a eficiência de modo a aproveitar o negócio que estava a crescer. Acontece que muitas delas investiram a contar com os prémios de realização. Prémios esses que, devido à alteração repentina da conjuntura, não conseguiram alcançar, o que faz com que algumas estejam a passar por situações delicadas. Na sua opinião, há medidas a tomar a nível governamental para ajudar as empresas do setor a ultrapassar esta fase? Há vários anos, e com maior intensidade desde 2020, que andamos a falar com os sucessivos governos para que sejam tomadas medidas de apoio ao setor. Uma delas já não é nova e teria um impacto muito significativo na saúde financeira das empresas, que é a criação de uma linha de financiamento suportada por instrumentos de proteção de Estado, para apoio à concretização de encomendas firmes e em curso para ultrapassar a extensão dos prazos de recebimento. Além deste, há outro problema, tão ou mais importante, que é o prazo de pagamento cada vez mais dilatado das grandes empresas nossas clientes. Nós chegamos a estar a fabricar durante dois anos, ou mais, sem receber qualquer pagamento. Ou seja, muitos fabricantes são obrigados a financiarem-se, com todas as burocracias que isso implica e a altas taxas de juro, para poderem trabalhar. No passado, bastava irmos ao banco com uma encomenda firmada para conseguirmos financiamento. Quando a empresa recebia o pagamento do cliente, esse valor era automaticamente direcionado para esse banco. Não havia a possibilidade de a empresa financiar-se num banco e depois receber por outro. Neste momento, tal não existe, apesar de ser algo pelo qual temos batalhado bastante. Aliás, está prevista para breve uma reunião com a tutela para discutir precisamente este assunto. Por outro lado, também parece ter havido uma tentativa da parte das OEMs de passar uma parte do trabalho que antes era feita por eles, nomeadamente de I&D, para o fornecedor, não é assim? Sim, sim. Atualmente, uma OEM é basicamente uma montadora. Algumas ainda fabricam os seus próprios motores, caixas de velocidades, fazem estampagem, mas a maioria subcontrata praticamente todas as peças que compõem um automóvel. No caso dos moldes e das peças plásticas, acresce que todo esse trabalho de I&D que nós fazemos não só não é
ENTREVISTA 18 pago, como não é garantia de virmos a ganhar o projeto, já que, muitas vezes, eles pedem a duas ou três empresas para fazer o mesmo desenvolvimento. Mas só uma ganha o negócio. As outras ficam sem poder amortizar os custos que tiveram com esse desenvolvimento. E não haveria uma forma de as empresas do setor se unirem para ganhar poder junto das OEM? Esse é um desafio que temos pela frente no setor, a necessidade de criar escala e dimensão para podermos ganhar poder negocial e concorrer a projetos de maior dimensão. É um tema que temos vindo a analisar e a discutir no seio da indústria e sobre o qual gostaríamos de lançar algumas iniciativas piloto que permitam demonstrar que tal poderá ser uma solução a ter em conta e a ser disseminada pelas empresas. De qualquer modo, os fabricantes nacionais de moldes e plásticos estão hoje muito melhor preparados tecnologicamente do que estavam há poucos anos... Nesse aspeto nós temos a tecnologia mais atualizada a nível mundial. Precisamente, para tentarmos tirar rendimento e ter coeficientes de aumento de produtividade e eficiência. Isto facilita a entrada em outros setores de maior valor acrescentado? Facilita. No entanto, os outros setores alternativos não absorvem a totalidade da capacidade instalada nas nossas empresas, mas estamos a fazer tentativas nesse sentido, tentando apoiar as empresas a diversificar mercados e áreas de intervenção. E isto tem muito a ver com as atuais condicionantes geopolíticas. Vou dar-lhe um exemplo: a Alemanha era um grande exportador de máquinas de lavar roupa para a Rússia e para a Ucrânia. O que é que a Alemanha vende hoje para estes países? Nada. A Rússia era um grande importador de camiões feitos na Europa. Hoje, estes foram substituídos por camiões chineses. Ainda assim, não existe um segmento onde a qualidade seja determinante? Existe, mas nem todas as empresas estão preparadas para trabalhá-lo. Estou a falar da indústria médica, que está muito concentrada em países como a Suíça, a Irlanda, a Alemanha, e os EUA, resultado de muitos anos de um intenso trabalho de investimento e aprendizagem. Em Portugal temos vindo a crescer nesta área, mas apenas num número limitado de empresas. Quais são atualmente os principais mercados de destino dos moldes portugueses? Neste momento, o nosso principal mercado é Espanha, seguido da Alemanha (que até há pouco ocupava o primeiro lugar) e de França. A Europa, no seu conjunto, representa cerca de 80% das nossas exportações. E nos mercados emergentes, há algum que se destaque? Sim, continuamos a exportar para o México e outros países, mas em menor quantidade que há uns anos atrás. A Europa Central, com a República Checa, Polónia, Eslováquia ou Roménia, têm, no seu conjunto, assumido uma posição bastante importante para o nosso setor, apesar da sua interação e dependência da Alemanha.
19 No último ‘market report’ da Cefamol, a Roménia aparece como um dos mercados de maior crescimento. Sim, organizámos algumas viagens à Roménia porque é um mercado onde estão instalados players importantes, como a Renault, a Dacia e outros que fabricam para as restantes marcas, e daí já resultaram negócios. Esperamos que este relacionamento possa ser intensificado ao longo dos próximos anos. E existe a possibilidade de fazerem no centro da Europa o mesmo que fizeram no México, ou seja, juntarem-se empresas portuguesas para terem lá instalações de fabrico? Teriam de ser as empresas, individualmente, a decidir fazê-lo. Mas não é fácil, já que isso implica recursos (financeiros, humanos) que hoje estão mais limitados nas empresas. De qualquer forma, teremos de pensar em estratégias diferenciadoras e em cooperação que permitam enfrentar a concorrência internacional e manter o posicionamento de Portugal na região. A diferença de preço já não é compensada pela qualidade? Não. Os fabricantes de moldes chineses melhoraram a qualidade nos últimos anos. E vendem a metade do preço dos fabricantes europeus. É impossível concorrer com isto. A única forma seria implementar políticas protecionistas? Creio que tal poderia, a curto prazo, ser fundamental para garantir a sustentabilidade de muitas empresas, face às condições de concorrência desleal que enfrentam. Mas há outras formas de protegermos a nossa indústria. Tomemos como exemplo os projetos públicos que se avizinham em Portugal, como o TGV. Quem é que vai ganhar os concursos para fornecer as locomotivas? Quais são as contrapartidas que Portugal vai exigir a esses países ou a essas empresas para, através de outras áreas de negócio, podermos ser nós também fornecedores desses países ou dessas empresas? Sei perfeitamente que existe uma Lei de Livre Concorrência vigente na Europa, mas é uma Lei que não nos beneficia. Estas situações deviam estar acauteladas e este tema devia estar na ordem do dia. Tal como o facto de algumas autarquias, à conta do PRR, se estarem a equipar com autocarros elétricos feitos na China. Ou o facto de o Ministério da Saúde este ano, num concurso público, ter comprado 53 carros elétricos chineses. Onde é que fica o interesse nacional? Pelo contrário, estamos a subvencionar as importações chinesas. O Estado deveria ser o primeiro a acautelar este tipo de compras, e não é. Sistemas de medição de perfil em linha info@imvolca.com +34 936 626 533 www.imvolca.com EXTRUSION CUTTING AND WINDING MACHINERY F.K.W SPIROFLUX Mangueiras aquecidas Tacos de borracha e correntes Fusos
ENTREVISTA 20 Neste contexto, mais uma vez, a solução poderia estar na junção de esforços entre as empresas nacionais? Sim, a solução poderia passar por aí, já que nos permitiria ganhar escala. Mas não é fácil, porque seria necessário ultrapassar todo um conjunto de barreiras. Cada empresa tem o seu método de trabalho, a sua filosofia, a sua política comercial e de pagamentos, dependendo da capacidade financeira. Uniformizar todos estes aspetos não é fácil, mas possivelmente terá de ser esse o caminho. Sem essa possibilidade, o que resta às empresas fazer? Otimizar a produção, aumentar a eficiência. Temos de fazer mais e melhor, em menos tempo, para conseguirmos vender mais barato. Esse é o nosso lema do dia a dia, que vamos conseguindo cumprir, mas ainda assim não conseguimos competir com os preços chineses. Não nos esqueçamos que também existe muita concorrência e falta de trabalho entre eles, o que faz com que sejam muito agressivos nos preços que praticam. Além de não lhes faltar mão de obra: os dados disponíveis indicam que, na China, existe um milhão de pessoas a trabalhar na indústria de moldes. Aqui temos aproximadamente nove mil trabalhadores no setor. Existe falta de mão de obra no setor, em Portugal? Neste momento, acredito que não, porque infelizmente encerraram algumas empresas e essa mão de obra foi absorvida pelas restantes, que necessitavam de mais trabalhadores. De qualquer forma, esse problema vai acabar por nos afetar, quando essas pessoas se reformarem. Os jovens não estão tão abertos a trabalhar na indústria como antigamente, porque, infelizmente, os salários não são o que já foram e a flexibilidade dos jovens hoje é diferente. E não há incentivos para que tal aconteça. Que incentivos seriam necessários? Acho que parte da solução pode passar por iniciativas como a promovida pela Universidade do Minho que este ano, pela primeira vez, não tinha alunos suficientes para abrir a licenciatura em Engenharia de Polímeros e que, graças ao apoio de várias empresas do setor, já tem. Basicamente, as empresas aderentes vão pagar as propinas dos alunos desta licenciatura, durante dois anos, algo que nós já fazemos com o Instituto Politécnico de Leiria há cerca de uma década. Não deveria ter de ser assim, porque de facto esta é uma profissão com alta empregabilidade. Mas, claro, é um trabalho que exige muita dedicação e flexibilidade, condicionamentos que muitos jovens não querem ter como opção. E isto não é só em Portugal, é um problema global. Qual é o papel da Cefamol perante todo este cenário? O papel da Cefamol tem passado muito por agregar as empresas do setor em torno de projetos e ações que permitam enfrentar desafios comuns. Fóruns de partilha de ideias e análise destes temas têm sido uma constante, o que nos tem permitido preparar e promover um conjunto de iniciativas que, algumas delas, estamos prestes a lançar. Em paralelo, também a apresentação de propostas de atuação e politica pública, nomeadamente, na vertente do financiamento e capitalização têm sido uma constante. A formação é outra das nossas apostas. Temos vindo a organizar múltiplas ações, precisamente, para dar às pessoas as ferramentas necessárias para poderem tirar o máximo rendimento dos equipamentos. Não nos vale de nada ter uma máquina de um milhão de euros, se depois as pessoas não sabem tirar o máximo partido dela. E não estou a falar apenas dos operadores, mas
21 sim de toda a cadeia de processo. Desde a conceção do molde até à sua expedição, tudo tem de estar alinhado para maximizar as tecnologias disponíveis. A Cefamol está a ajudar as empresas neste caminho, contratando formadores com experiência na matéria, para passarem esse conhecimento aos profissionais do setor, de forma a que possam implementá-lo nas empresas onde trabalham. Além disso, promovemos a participação em feiras e eventos internacionais, organizamos visitas a mercados externos, realizamos conferências sobre temas relevantes para o setor e continuamos a reforçar o nosso relacionamento com o poder político e com as instituições, para que nos oiçam. Já se passaram alguns anos desde que se criou o cluster Engineering & Tooling from Portugal. Que balanço faz desta iniciativa, até à data? O cluster foi fundamental neste período para reforçar competências e dar visibilidade à cadeia de valor do setor, desde a conceção até à produção da peça final, agregando na mesma plataforma empresas de moldes, de plásticos, centros de I&D, universidades, centros de formação e até autarquias. Tem sido muito importante para alinhar as empresas do setor e para promover a marca da engenharia de moldes portuguesa junto dos mercados externos. Neste aspeto, acho que temos sido bem-sucedidos (falamos a uma só voz). Finalmente, e em jeito de síntese, quais diria que são os principais desafios e oportunidades do setor para os próximos anos? Eu diria que os principais desafios são: conseguir mais encomendas, encurtar os prazos de pagamento e garantir linhas de crédito acessíveis que permitam o financiamento e sustentabilidade das empresas. Já as oportunidades vão depender, por um lado, da resolução dos atuais conflitos geopolíticos – a Rússia ou Israel, por exemplo, antes do início do conflito eram importantes compradores de moldes feitos em Portugal -, e por outro, da evolução da tecnologia no mercado automóvel. Acredito que os carros elétricos vieram para ficar, mas ainda temos um longo caminho a percorrer até que todas as condições estejam reunidas para fazer florescer esse mercado. O mesmo acontece com o hidrogénio. É uma tecnologia interessante, mas que ainda está pouco desenvolvida e é muito cara. Compensará nos camiões, nos barcos e talvez nos aviões, mas nos carros ainda não. Em resumo, vivemos tempos de muita incerteza, mas cá estaremos para continuar a fazer o nosso caminho, com a resiliência que nos caracteriza. n
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