ENTREVISTA OS NÚMEROS DA INDÚSTRIA NACIONAL DE COMPONENTES PARA AUTOMÓVEL* Portugal tem atualmente cerca de 350 fabricantes de peças e componentes para automóvel, o que representa 0,9% da indústria transformadora nacional. Estas empresas empregam 62 mil pessoas, tendo criado mais de 14 mil postos de trabalho entre 2015 e 2019. No seu conjunto, totalizam um volume de negócios de 11 mil milhões de euros, ou seja, 5,2% do PIB do país. Entre 2015 e 2019, esta indústria registou uma taxa de crescimento média anual de 8%. Após o retrocesso resultante da pandemia (-13,5% em2020), conseguiu uma rápida recuperação, atingindo um aumento de 6,7% em 2021. Trata-se de uma indústria altamente exportadora, com as vendas ao exterior a representaremmais de 80% do volume de negócios (nove mil milhões de euros em 2021, o que representa 14,2% das exportações de bens transacionáveis). No ano passado, a maioria das exportações teve como destino a Europa (88,3%),mais concretamenteEspanha (29%), Alemanha (20,6%), França (11,6%) e Reino Unido (4,7%). A maioria das empresas são de capital maioritariamente português (62%), estão localizadas no Norte (54,2%) e Centro (30,8%) do país e distribuem-se pelos seguintes setores de atividade: • Metalurgia e metalomecânica: 32% • Elétrico/Eletrónica: 31% • Plásticos, borrachas e outros compósitos: 20% • Têxteis e outros revestimentos: 10% • Montagem de sistemas: 4% • Outros: 3% A Indústria de Componentes Automóveis tem revelado umdesempenho acima da produção automóvel na Europa. Entre 2015-2019 cresceu a uma taxa de +8% ao ano, o que compara com um crescimento médio anual de apenas +0,3% da produção automóvel na Europa. A performance em 2020 e 2021 continua a evidenciar a competitividade e resiliência da indústria portuguesa de componentes automóveis. Após uma quebra de -13,5% em 2020, registou um crescimento de 6,7% em 2021, mais de três pontos percentuais acima da taxa registada pela produção automóvel, que se situou ainda em terreno negativo (-3,5%). *Fonte: AFIA. 38 tudo, a dar o salto para a indústria 4.0. A pandemia veio acelerar a exigência de digitalização da indústria. Hoje, todos temos de estar mais preparados para implementar a digitalização nas empresas - interligando o chão de fábrica e os processos de gestão com os dos nossos clientes e fornecedores - porque os nossos clientes vão exigir-nos isso. Tal como nos vão exigir uma diminuição da nossa pegada ambiental. E, para isso, é preciso dinheiro. Quais são as expectativas de crescimento da indústria automóvel para os próximos anos? Nos próximos anos vamos ter desafios enormes. Os projetos ligados aos motores tradicionais vão desaparecer e, ao mesmo tempo, vamos ter de ganhar novos projetos ligados a outras soluções de motorização. E, neste balanço, podemos não ter aumentos das vendas, mas acredito que daqui venham alguns benefícios, do ponto de vista do valor acrescentado. A mobilidade elétrica parece ser uma tendência incontornável perante a necessidade de diminuição das emissões de CO2. Na sua opinião, este é o caminho certo? Como vê o futuro da mobilidade a médio prazo? 100% elétrica? Híbrida? O elétrico afirmou-se e não será fácil destroná-lo. Mas a questão das infraestruturas de abastecimento é um problema para alguns países, como Portugal, Itália ou França. Há soluções alternativas e, provavelmente, teremos marcas a desenvolver soluções a hidrogénio, por exemplo. Na sua opinião, as empresas portuguesas estão preparadas para estas mudanças? Quem faz componentes para os automóveis tradicionais fará para os elétricos também. As empresas portuguesas, como já provaram no passado, estarão prontas para fazer esse esforço de desenvolvimento, de modo a oferecer ao cliente novas soluções. Basta que elas sejam chamadas a entregar essas soluções. E essa é a questão fundamental. Finalmente, a falta de mão de obra qualificada é, ou pode vir a ser, um entrave? Se sim, que medidas será necessário implementar? Sim, é um problema. De tal forma que muitos empresários têmevitado despedir trabalhadores emmomentos de crise, num sacrifício muito significativo para as empresas, porque não querem mandar embora alguém em cuja formação investirambastante e que lhes vai fazer muita falta no futuro. Para resolver o problema, temos de tornar a indústria ‘sexy’ para as novas gerações. É preciso que os jovens voltem a acreditar na indústria e que vejam nela uma carreira. Por outro lado, temos de continuar a formar as pessoas que já temos dentro das empresas, dando-lhes condições para aumentarem as suas competências. n
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