BP14 - InterPLAST

ENTREVISTA 36 As parcerias entre a indústria e os centros de I&D são determinantes para o sucesso das empresas portuguesas? Durante muitos anos, essa relação com os centros de conhecimento não foi fácil. Mas, entretanto, avançámos bastante nesta área – a prova são as Agendas Mobilizadoras, em que empresas e instituições colaboram de forma muito estreita, tendo conseguido compatibilizar objetivos e linguagens. Este ‘acertar de agulhas’ émuito importante, principalmente numa altura em que a competitividade das empresas portuguesas ultrapassa a componente preço. O serviço que prestamos e a fiabilidade e qualidade dos produtos que fabricamos têm cada vez mais importância para o cliente. O próprio conceito de complexidade mudou nos últimos anos. Por isso, é cada vez mais importante que esta componente de I&D esteja presente na nossa oferta. E, neste aspeto, sem dúvida que a academia e os centros de investigação podem e devem ser importantes aliados da indústria. Alémda falta de componentes eletrónicos, que outros aspetos externos podem condicionar o crescimento dos fabricantes de componentes nacionais? As condicionantes são várias, muito importantes e difíceis de ultrapassar. É o caso da logística. Dificilmente as empresas portuguesas conseguem colocar as suas peças no centro da Europa, a um preço competitivo, sem ferrovia, por exemplo. Neste aspeto, Portugal está em grande desvantagem em relação a países como a Eslovénia, Polónia, Roménia ou Hungria, que viram na indústria automóvel um mercado fundamental para o desenvolvimento da sua indústria interna e que têm vindo a posicionar-se de forma muito agressiva. Portugal tem ainda a desvantagem de não ter, nem estar perto de uma fábrica de baterias. Ora, não podemos transportar baterias de um lado para o outro, principalmente se o único canal de transporte é a rodovia. O transporte marítimo pode ser uma alternativa pontual, mas não é a solução. De que forma podemos ultrapassar esses obstáculos? Antes de mais, é preciso construir novas infraestruturas, nomeadamente ferroviárias. Além disso, é necessário vender no exterior as capacidades das empresas nacionais. E a verdade é que, no que respeita à indústria automóvel, essas capacidades não são nada de novo. Ao longo dos anos as empresas nacionais têm vindo a afirmar-se pela sua competência, pela qualidade dos seus trabalhadores e dos seus empresários. Construir uma fábrica de baterias em Portugal também seria uma mais valia importante. Alémdos desafios que indicou, os fabricantes de peças em plástico têm tambémmetas de incorporação de reciclado para cumprir... Sim, mas se o nosso cliente não permitir que se faça reutilização dos materiais, não podemos utilizá-los. Impõe-se que a Comissão Europeia promova umesforço para se caminhar nesse sentido, dentro dos pressupostos da economia circular. Mas muitos destes materiais são compósitos e não é fácil trabalhá-los de forma a que possam ser reincorporados no processo. É umdesafio a que a indústria está bastante atenta. Inclusive, esse será um dos principais temas do congresso que a APIP vai realizar emoutubro: o Plastics Summit Global Event, que irá decorrer no dia 17 de outubro, em Lisboa. A Alemanha é o segundo principal destino das exportações de componentes automóveis nacionais. É também um dos países mais expostos à atual crise energética, causada pela guerra na Ucrânia. Isto pode vir a ter impacto sobre as empresas portuguesas? A diminuição da atividade industrial na Alemanha terá sempre efeito em Portugal. Mas, o modelo alemão de captação de investimento sofreu alterações na última década. Hoje, eles protegem muito mais os investimentos e apoiam diretamente a economia. De qualquer forma, a estimativa é que cheguemos ao final do ano com menos quatro milhões de veículos produzidos na Europa. Ora, sendo a Alemanha o maior fabricante europeu, percebe-se que os fornecedores que trabalham para aquele país serão também muito afetados. Quais as razões para essa diminuição? São várias. Desde questões relacionadas com o gosto dos consumidores ao aumento dos custos da energia, à falta de matérias-primas e de componentes eletrónicos. Existeanoçãodequeaguerraoriginoudeslocalizaçãode projetosda indústriaautomóvel paraaPenínsula Ibérica. É tambémesta a vossa perceção? De que forma podem as empresas portuguesas aproveitar esta tendência? Acho que isso não passou de uma expetativa. Provavelmente, alguma empresas sentiram que estavam aptas a acolher projetos, mas, no caso da indústria automóvel, existem processos de certificação e homologação que demoram o seu tempo. Além disso, num processo destes é necessário transferir ferramentas e linhas de produção. Não é fácil. De facto, sabemos que existiram migrações, mas apenas em produtos de trabalho intensivo. Isso terá acontecido também em alguns projetos de moldes… Sim, mas a minha perceção é que esses moldes novos não têm como destino a indústria portuguesa. É exata-

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