OPINIÃO 79 trabalhadores no ativo, que tenham estado expostos a amianto e que, por circunstâncias diversas, deixaram de ser acompanhados, impedindo a monitorização da sua saúde relativamente ao desenvolvimento de DPA, bem como um acompanhamento ou intervenção que garanta a sobrevida destas pessoas. O amianto é considerado um agente cancerígeno perigoso, que mata mais de 70 mil pessoas por ano na Europa. É classificado como a causa principal de cancro relacionado com a exposição nos locais de trabalho - 78% dos cancros profissionais identificados na União Europeia estão associados à exposição ao amianto, cujas fibras foram amplamente utilizadas em edifícios e materiais de construção, máquinas, veículos e infraestruturas de transporte e produtos de consumo. O nome ‘amianto’ foi adotado pelos gregos por volta de 300a.C. em Roma. Reza a história que um imperador romano possuía uma toalha de mesa feita de amianto e os persas surpreenderam a população limpando-a com uma exposição ao fogo. É conhecida a sua utilização histórica há, pelo menos, 4.500 anos, onde foi adicionado como material de reforço em faiança e panelas. O seu uso industrial moderno data da segunda metade do século XIX, com muitas aplicações em isolamento, peças retardadoras de fogo (de importância crítica para os navios de guerra) e resistentes a ácidos, isolamento de tubos, etc. Nessa altura, os perigos do amianto para os trabalhadores dos estaleiros navais nem sequer eram considerados. A Segunda Guerra Mundial estimulou ainda mais o seu uso e a produção aumentou a partir dessa altura. Era utilizado pelas suas reconhecidas propriedades de resistência ao fogo/calor, aos agentes biológicos e como isolante. As fibras eram frequentemente misturadas com cimento ou trabalhadas enquanto tecido, para uso diverso, como o doméstico, em alguns produtos domésticos onde o isolamento térmico e elétrico era necessário (ex: fornos). Estima-se que o pico do seu uso se deu na década de 70, quando o fabrico e a utilização de produtos de amianto atingiram os seus níveis máximos na Europa Ocidental, Escandinávia, América do Norte e Austrália, e quando a produção mundial ultrapassou os cinco milhões de toneladas por ano. Desde então, a extração deste mineral nas pedreiras de amianto diminuiu consideravelmente, mas o uso ainda ascendeu a 1,2 milhões de toneladas métricas em 2020. Com a posterior confirmação dos efeitos provocados pela inalação de fibras de amianto, como cancro do pulmão, mesotelioma e asbestose, a União Europeia aplicou a sua proibição desde 2005, o que levou a que estas fibras não possam ser usadas no fabrico de novos materiais ou que, por exemplo, os materiais com amianto retirados (como telhas ou condutas) não possam ser reutilizados em outras aplicações. A SOS Amianto tem promovido a divulgação da Campanha de Rastreio na comunicação social e redes sociais, bem como diligenciar junto das entidades responsáveis pelo abastecimento de água e saneamento, convidando- -as a participar através da seleção de trabalhadores que possam estar elegíveis para o programa. É nosso objetivo sensibilizar estas entidades e os seus colaboradores para os riscos de exposição, apresentar soluções para minimizar a exposição, promover a proteção individual e coletiva dos trabalhadores, contribuindo para um melhor acompanhamento das intervenções de manutenção das condutas e materiais contendo amianto, em articulação com os serviços de segurança, higiene e saúde no trabalho. Apesar da proibição do uso de amianto, a sua presença é constante em diversos setores, edifícios e infraestruturas, perpetuando o risco de exposição humana - ambiental e profissional – a este cancerígeno, o que obriga a uma necessidade premente de dedicar-lhe uma atenção constante. n
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