BI334 - O Instalador

INOVAÇÃO AVAC | ENTREVISTA 49 Qual a sua formação? Sou engenheira mecânica, mas sempre me interessei por questões ambientais, como o problema do ozono e da reciclagem. No entanto, gostava de seguir algo ligado à matemática e à física, pelo que optei pela energia térmica. Como engenharia do ambiente não tinha uma componente deep tech, escolhi engenharia mecânica no ramo de termodinâmica, AVAC, performance energética dos edifícios e energias renováveis. Sempre se interessou por estas áreas? Curiosamente, em pequena queria ser escritora e até optei por artes, pois na altura era possível conciliar com disciplinas como matemática e física. No entanto, no final do 12º ano, escolhi engenharia e, em 1999, entrei no Instituto Superior Técnico para um curso predominantemente masculino, mas do qual gostei muito. Como surgiu o interesse pelas energias renováveis? Senti essa vocação desde a adolescência, pelo que fui selecionando as cadeiras do curso relacionadas com ambiente e energias renováveis. Quando terminei a licenciatura, candidatei-me e fiquei no primeiro programa doutoral do MIT Portugal, na área de sistemas sustentáveis de energia. Foi a primeira edição de um programa de intercâmbio entre várias universidades portuguesas, liderado pelo Instituto Superior Técnico e pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com um intercâmbio com o MIT, em Massachusetts, nos Estados Unidos. E surgiu a oportunidade de fundar a Bandora Systems? Os cursos universitários estão muito orientados para trabalhar numa grande empresa, não para se ser empreendedor. Todos os exemplos de empreendedorismo estavam relacionados com consultores ou freelancers, não para gerar riqueza e postos de trabalho. Após uma passagem pela ADENE e pela Glynt, tive uma experiência numa start-up que desenvolvia dispositivos de controlo retomo de iluminação e tudo mudou. Percebi que o produto precisava de ser alavancado com software mais robusto, utilizando tecnologia de inteligência artificial (IA), para passar ao nível seguinte. Foi daí que surgiu a ideia da Bandora, transportando o conceito para os ares condicionados, que é o que consome mais energia nos edifícios. Estávamos em 2017 e consegui reunir pessoas em várias vertentes: eu, como engenheira mecânica na performance energética nos edifícios, bem como várias pessoas ligadas ao software e data science. Isso permitiu constituir a empresa numa perspetiva de captar financiamento, o que só se verificou em 2020. O que se destacou no projeto? O facto de ter reconhecido uma problemática: os consumos energéticos dos edifícios eram muito elevados, mesmo sendo densamente sensorizados com dispositivos que permitiam controlar, de forma automática, os sistemas de AVAC. A resposta era evidente: devia-se ao facto de as equipas de manutenção serem subcontratadas e rotativas, com renovações anuais ou a cada dois anos. Cada equipa que chega tem de começar tudo de novo, ou seja, não há um conhecimento que permanece no edifício. Situações tão simples como ‘se às 9h00 tenho de garantir as condições de conforto de um edifício de escritórios, a que horas devo ligar o sistema de AVAC para garantir que tenho 21 ou 22°C? ou ‘quanto tempo demora a aquecer um edifício, tendo em conta as condições meteorológicas específicas para aquele dia?’ É isso que fazemos. Sabemos exatamente a que horas devemos ligar ou desligar um sistema de ar-condicionado. Sem a ajuda da inteligência artificial isso não era possível? Sem IA não era possível porque iria exigir um conhecimento muito íntimo, que só é obtido com uma pessoa com muita experiência. Aliás, quando tenho de explicar o que fazemos, peço para imaginarem um técnico de manutenção do edifício com 40 anos de experiência. Isso já não existe, mas é o que fazemos. Temos quatro décadas de experiência. E como recolheram esses dados? Quando começámos, a primeira pessoa que contratei foi um data scientist, que teve como primeira tarefa analisar toda a informação do nosso primeiro cliente. Mas estávamos a falar de pouco mais do que seis meses de dados, o que não chegava. ‘Como vou conseguir prever a resposta de um edifício só com estes dados?’, perguntou-me. Foi aí que surgiu uma das nossas inovações: desenvolver um modelo digital, um digital twin, para simular esse modelo durante 40 anos, com as condições meteorológicas dessas quatro décadas. E ainda adicionámos pedidos de temperatura, de condições ambientais interiores extremas, ou seja, desde 10°C no interior do edifício até 40°C. Isto para garantir que conseguíamos ter todas as combinações possíveis. Desta forma, conseguimos um modelo com elevada precisão que nos permitia começar, desde o dia zero, a controlar e a otimizar um edifício. Caso contrário, teríamos que esperar anos. Todas as empresas podem ter este serviço? Sim porque desenvolvemos esse modelo digital. Trabalhamos desde edifícios muito grandes até restaurantes de cadeias de fast food. O processo é sempre o mesmo e conseguimos, desde o dia zero, começar a controlar sem ter de esperar por dados.

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