BF1 - iALIMENTAR

ENTREVISTA 30 demandas da sociedade. Sabemos que apesar de haver uma variedade enorme de alimentos com composições nutricionais diversificadas, vivemos numa sociedade onde há um consumo excessivo de açúcar, sal e gorduras e que isso tem impacto na saúde pública. A indústria assumiu o compromisso de continuar a disponibilizar produtos de qualidade – e a qualidade envolve segurança, sabor e experiências –, mantendo essas caraterísticas, conseguir também ir reformulando os produtos. Hoje temos no mercado, em muitas categorias, produtos com menos sal e açúcar. Através da FIPA, vários setores assumiram, com o Governo, compromissos que estão a ser negociados, no sentido de, em algumas categorias, se poder dar mais visibilidade a esse trabalho, que tem exigido um grande investimento por parte das empresas. Estas novas tendências são uma oportunidade de negócio para o setor? Onde estão as tendências aparecem negócios, por norma. Se hoje o consumidor se preocupa com a forma como a alimentação impacta na sua saúde ou no ambiente, as empresas adaptam-se e novos negócios surgem. O consumidor hoje acaba por ser o grande motor desta indústria. Qual o impacto que o ‘boom’ que tivemos no digital e no e-commerce, e que seguramente se irá manter em parte, poderá ter na indústria alimentar? O e-commerce era algo que não estava muito enraizado na área alimentar e, certamente as pessoas vão conti- nuar a ir às lojas para ver e escolher os produtos, mas ainda não sabemos em que medida esta tendência se vai manter, nomeadamente nas novas gerações. Mas, de facto acelerou um pouco ao nível do abastecimento alimentar e curiosamente também no comércio local, que começou a fazer entregas, e na restauração (através dos vários serviços de entrega). Esta tendência vai exigir trabalho do setor ao nível da inovação, nomeadamente, na forma como se disponi- bilizam os alimentos, para que cheguem nas melhores condições. O digital em sentido mais lato tem tido grande impacto na indústria, ao nível da gestão da produção e da logís- tica, por exemplo, e vai continuar a ter. Não podemos esquecer também o impacto ao nível do trabalho, com o teletrabalho, com desafios muito grandes para pôr as equipas a trabalhar e de manter as dinâmicas. E no futuro, os modelos de trabalho irão passar, em alguns casos, por modelos mistos. Em termos de inovação, quais considera que serão as áreas-chave para o setor no futuro? A área das embalagens é muito promissora ao nível da inovação, também a digitalização irá fazer o seu cami- nho e com impacto grande nas empresas, igualmente a nível de formulação de ingredientes vamos ter uma progressão baseada na investigação do impacto de cada ingrediente do ponto de vista nutricional, porque são áreas onde existe pressão do mercado e vontade das empresas. Ao nível das exportações, a Europa continua a ser o nosso grande mercado. Há uma aposta na diver- sificação dos mercados? Temos, de facto, uma grande dependência do mercado europeu e há uma grande oportunidade para se come- çar a diversificar para países terceiros. Mas atenção que exportar não implica apenas enviar um produto para outro país. Exportar implica, muitas vezes, adequar os produtos às questões sensoriais, culturais, etc. e é preciso conhecer isso muito bem. Porque entrar num mercado sem conhecer tudo isso, por vezes, acaba por inviabili- zar o sucesso. Ao nível da promoção dos produtos o digital tam- bém veio trazer grandes mudanças que, algumas, se irão certamente manter… Sim. Obviamente que as grandes feiras são sempre bem- -vindas mas digitalmente é possível chegar a mercados mais distantes e fazer ações mais curtas e mais dirigi- das a mercados específicos, por exemplo. A nível da promoção externa, o digital também passa a ter um papel diferente. n

RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx