BA8 - Agriterra

18 GREEN DEAL: DO PRADO AO PRATO de estabelecer estas metas foi tomada por pessoas em gabinetes e não por conhecedores da realidade agrícola e da disponibilidade orçamental das famílias na Europa. Estes objetivos teriam também de ser perspetivados em função das relações comerciais com países terceiros. No entanto, parece que não se tiveram em conta os acordos comerciais internacionais e não se acautelaram situações de desvantagem competitiva dos agricultores europeus face a congéneres de países terceiros, que produzem commodernas tecnologias e que veemos seus produtos colocados nos mercados internacionais a preços competitivos, ao mesmo tempo que têm maiores produtividades e uma redução do uso de fatores de produção face aos agricultores europeus. Voltando ao início: é seguramente desejável que a produção agrícola caminhe para modos de produção o mais sustentáveis possível, participando no processo de descarbonização da produção, reduzindo o seu impacto nas emissões de carbono, reduzindo a aplicação de compostos e nutrientes ambientalmente prejudiciais, utilizando eficientemente a água disponível e participando no processo de miti- “Exige-se um repensar deste Green Deal, em particular tendo em conta a situação de guerra na Europa, a qual não parece ser resolúvel em curto tempo e que pressiona em alta os preços de todos os fatores de produção e da energia, para além dos produtos alimentares” gação das alterações climáticas em curso. Isto terá, no entanto, de ser feito garantindo tambéma sustentabilidade social e económica, que parece ter sido esquecida ou apenas pensada para (ou pela) população europeia abastada e citadina. Não é construindo utopias ecológicas, descentradas das realidades, que se consegue criar sustentabilidade na produção agrícola. É ainda necessário compreender que na Europa dos 27 coexistem várias agriculturas e vários sistemas agro-ecológicos. Os países europeus da bacia do Mediterrâneo estão particularmente vulneráveis às variações climáticas em curso, com o aumento da incidência de novas pragas e doenças e fenómenos de seca prolongados. Portugal, em particular, tem uma parte significativa dos seus solos degradados e o seu território alberga várias agriculturas que têm que conviver, mas que também têm que sobreviver. Não só a bem da soberania alimentar, mas também da soberania e densificação territorial. Exige-se, portanto, um repensar deste Green Deal, em particular tendo em conta a situação de guerra na Europa, a qual não parece ser resolúvel em curto tempo e que pressiona em alta os preços de todos os fatores de produção e da energia, para além dos produtos alimentares. Espera-se que os líderes europeus, apesar da morosidade dos processos de tomada de decisão, compreendam esta urgência e sejam capazes de ultrapassar todos os escolhos para colocar rapidamente esta PAC num caminho de verdadeira sustentabilidade da agricultura europeia. Finalmente, “como fazer a transição?”: 1 – compreendendo o mundo agrícola; 2 – compreendendo as condicionantes da produção primária nas diferentes regiões; 3 – compreendendo que a sustentabilidade ambiental é fundamental, mas que sem sustentabilidade social e económica haverá ainda uma maior desertificação das áreas agrícolas, menos agricultores e menos agricultura; 4 – com mais equilíbrio nas medidas a implementar; 5 – com uma proposta de valor que o distribua por toda a cadeia; 6 – com a utilização de todo o conhecimento científico existente (e as suas aplicações) sem demagogias ecojustificadas; 7 – com uma melhor agricultura, não entendida como um poder mas como um bem, valorizando o trabalho agrícola e o produtor. n

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