BA8 - Agriterra

17 GREEN DEAL: DO PRADO AO PRATO Em particular, esta estratégia estabeleceu três objetivos para atingir até 2030: 1) a redução de 50% no uso e risco de pesticidas químicos; 2) a redução de 50% no uso de pesticidas mais perigosos; e 3) ter 25% da agricultura europeia em modo de produção orgânico. Sendo desejável a adoção de modos de produção agrícolamais sustentáveis, as metas acima definidas são, do meu ponto de vista, irrealistas, sobretudo nos prazos definidos. A redução de 50% do uso de fitofármacos implica a reconversão de toda a indústria que desenvolve produtos e serviços para a proteção das culturas e o desenvolvimento, em apenas 8 ciclos agrícolas, de novas soluções, num cenário de crise ambiental imposta pela rápida mudança do clima e o aumentomédio da temperatura, que afeta particularmente a Europa do Sul. O aumento da temperatura média e a globalização da circulação de bens e produtos agrícolas trouxeram a dispersão de pragas e doenças para as quais, em muitos casos, não existem soluções no mercado, que, quando/se aparecerem, levarão 10-12 anos a chegar ao mercado. Domeu ponto de vista existe uma falta de adesão à realidade dos defensores destes objetivos: a descontinuidade de um grande número de soluções para a proteção das culturas, inclusive, algumas utilizadas emmodo de produção orgânico, deixa os agricultores na eminência da perda sistemática de produções. Esta estratégia de obrigar a agricultura a determinados modos de produção, não deixando sequer tempo para uma adaptação é, nomeu entender, suicida para uma produção agrícola sustentável, ao invés daquilo que se pretende alcançar. É, portanto, exigível reequilibrar este Green Deal para o ajustar à realidade. A “transição justa” que se protagoniza, no contexto do Green Deal, será feita à custa de onerar os extremos da cadeia de valor: por um lado, obrigam-se os produtores a seremmenos eficientes e a custos de produção mais elevados; por outro lado, protagoniza-se o encarecimento dos alimentos e outros produtos de origemagrícola, a suportar pelos consumidores, como se todos os agricultores europeus vivessem na abastança, a população europeia fosse toda rica e, emparticular nos países do Sul, não existisse um número significativo de pessoas a viver no limiar da pobreza. A esta perspetiva adiciona-se a “educação” para “dietas sustentáveis”, leia-se a imposição às populações de determinadas dietas, numa perspetiva quase orwelliana. A meta de 25% em modo de produção orgânico é não só inatingível, mesmo que se considerem emmodo de produção orgânica os prados permanentes, mas implica uma redução da capacidade de produção de alimentos (quando existe uma necessidade extrema de aumentar as produtividades) e um aumento do custo ao consumidor, reduzindo a capacidade demanutenção da soberania alimentar em vários países. Parece que a decisão

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