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Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Avenida Barbosa du Bocage, 87 4º Piso, Gabinete nº 4 1050 - 030 Lisboa (Portugal) Telefone (+351) 217 615 724 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Nova Àgora Grup, S.L. (100%) Diretora Ana Clara Equipa Editorial Ana Clara, David Pozo, Ángel Pérez, Alexandra Costa Marketing e Publicidade Filomena Oliveira www.agriterra.pt Preço de cada exemplar 10 € (IVA incl.) Assinatura anual 40 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127451 Déposito Legal 471809/20 Distribuição total +5.300 envios Distribuição digital a +4.200 profissionais. Tiragem +1.100 cópias em papel Edição Número 6 – Fevereiro de 2022 Estatuto Editorial disponível em www.agriterra.pt/EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Gráficas Andalusí, S.L. Camino Nuevo de Peligros, s/n - Pol. Zárate 18210 Peligros - Granada (España) www.graficasandalusi.com Media Partners: Membro Ativo: Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da Agriterra adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. SUMÁRIO ATUALIDADE 4 EDITORIAL 5 “Um dos grandes desafios do PEPAC passa pela equidade entre produtores e regiões” 12 Fruticultura: doenças e pragas, uma ameaça constante 18 Fungos de quarentena em citrinos: riscos associados à importação de frutos 24 Inovação na proteção de culturas em fruticultura 28 Mycochest: melhora a capacidade dos castanheiros na captação de água e nutrientes 32 Afídeos: o que são e que tipos existem? 34 ASCENZA aposta em novo portfólio de produtos de bioproteção 39 Citricultura: setor teme situação crítica em 2022 e reclama cadastro 42 HLB e a psila-africana-dos-citrinos: um novo problema e novas soluções 48 Entrevista a Marcello Carraro, CEO da Antonio Carraro 54 New Holland lança a nova geração de tratores especializados T4 F/N/V e amplia a gama T3 60 Vendas da CLAAS disparam para os 4.800 milhões de euros 62 A primavera está quase aí: veja as sugestões de pneus BKT para regressar ao trabalho 64 Proteger as culturas e ajudá-las a produzir mais 66 ASTELIS: a nutrição bioativa 70 A matéria orgânica do solo 72 A Cotesi na proteção de forragens: uma gama única 74 Entrevista com Carlos Silva, Administrador Executivo InvestBraga 76 “Noz é boa oportunidade de investimento” 78
4 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Congresso Nacional do Milho em Santarém a 23 e 24 de março Evento tem lugar no CNEMA, em Santarém, e é organizado pela Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS). A importância da gestão integrada dos recursos hídricos, os novos desafios da alimentação, os mercados mundiais das matérias-primas, o papel da agricultura no modelo de desenvolvimento socioeconómico português e a agricultura portuguesa na PAC pós-2022 são os grandes temas em debate neste fórum incontornável do setor agroalimentar. A subida do custo dos fatores de produção e a situação de seca que assola o território nacional colocam grandes desafios aos produtores de milho e aos agricultores em geral. Em dois painéis distintos, serão analisadas as perspetivas futuras dos mercados mundiais das matérias-primas agrícolas e a gestão da água em cenário de alterações climáticas, olhando para o regadio e o armazenamento de água em Portugal de forma desassombrada. A PAC pós-2022 e as suas implicações na agricultura portuguesa será também um tema incontornável neste fórum do milho, que contará com a presença de oradores em representação das entidades responsáveis pela conceção do PEPAC e das instâncias europeias que o avaliam. “Os produtores nacionais de milho estão preparados para responder, com eficiência e assertividade, aos desafios que se lhes colocam na atual conjuntura, encarando com otimismo a próxima campanha agrícola, face às perspetivas de manutenção de preços elevados do milho nos mercados internacionais nos próximos anos, apesar de termos de acompanhar, com especial atenção, o aumento dos custos dos fatores de produção, entre os quais, os adubos e a energia. O XIII Congresso Nacional do Milho é o palco para todos os debates sobre o futuro da fileira do milho e da agricultura nacional de regadio”, afirma Jorge Neves, presidente da ANPROMIS. Syngenta nomeia novo Diretor-Geral da Unidade de Negócio de Proteção das Culturas para Portugal e Espanha Ronan De Hercé é o novo Diretor-Geral da Unidade de Negócio de Proteção das Culturas da Syngenta para Portugal e Espanha. Substitui Robert Renwick, que foi nomeado Diretor da Área de Sustentabilidade de Negócio para a Europa, África e Médio Oriente (EAME). Ronan de Hercé tem um percurso profissional de mais de 10 anos na Syngenta, onde ocupou importantes cargos de direção nos departamentos Comercial e de Marketing como Diretor de Serviços de Marketing para a África e Médio Oriente, como Diretor de Relações com Clientes e Contas Chave para EAME, centrados no desenvolvimento de serviços a clientes e agricultores, nas áreas de Digitalização, Agricultura de Precisão e Sustentabilidade. Durante mais de três anos foi Diretor-Geral da filial da Syngenta em Marrocos. Ronan De Hercé possui um MBA pela London Business School e um Master em 'Gestion des Ressources de la Defense', pela Ecole Spéciale Militaire de Saint-Cyr, em França. Ronan de Hercé refere ser “uma enorme satisfação assumir a direção geral de uma filial tão importante como a Syngenta Ibéria e, ao mesmo tempo, um grande desafio, pois a Syngenta é líder no setor da proteção das culturas em Espanha e é uma das empresas líderes do setor em Portugal, firmemente determinada em continuar a apoiar um setor agrícola competitivo e comprometido com a proteção do meio ambiente e a ação pelo clima”.
5 EDITORIAL 2022 começa empurrado pelo ânimo. Primeiro, por alguma acalmia da pandemia e, em segundo lugar, porque este é o ano do ‘tudo ou nada’ para o PEPAC - Plano Estratégico da PAC para o período 2023-2027, entregue à Comissão Europeia no final de dezembro passado. Os desafios, as grandes mudanças é o que está em causa nesta PAC que se quer verde e resiliente. Foi este o pretexto para a entrevista que pode ler mais à frente com o professor Francisco Avillez, uma das vozes mais respeitadas em Portugal em matéria de Política Agrícola. O PEPAC entrará em vigor em janeiro de 2023, mas até lá ainda haverá algumas arestas a limar. Mas uma coisa parece ser unânime: o documento prevê uma maior equidade na distribuição de apoios e (tenta) acautelar as pequenas e médias empresas agrícolas, bem como as circunstâncias geográficas. Resiliência, transição digital e climática são os grandes objetivos. E, nesse sentido, apesar de algumas críticas ao período de tempo de consulta pública (que muitos consideraram escasso), a verdade é que é fundamental que se aproveite esta oportunidade (financeira) para compensar muitos dos constrangimentos que milhares de agricultores atravessam e que a pandemia veio adensar. Atuar nas necessidades prementes é, sem dúvida, essencial. Veremos, provavelmente ainda neste semestre, a análise que Bruxelas fará ao documento. Nesta primeira edição do ano, damos ainda destaque ao tema das pragas e doenças na fruticultura portuguesa, um setor cada vez mais importante na balança comercial agrícola e que tem registado uma evolução positiva nas últimas décadas. Contudo, as pragas que afetam as culturas, expostas cada vez mais aos efeitos das alterações climáticas, impactam, e muito, o rendimento da atividade. Destaque ainda para o setor dos citrinos, onde traçamos uma radiografia atual do mercado. O aumento dos custos de produção, a situação crítica da água, a falta de mão-de- -obra e as pragas e doenças que destroem os pomares são os principais problemas diagnosticados. O Algarve representa 90% da produção nacional de citrinos e a exportação ronda os 25%. Uma dinâmica evolutiva que exige cada vez mais um olhar diferente do País e dos governos para esta realidade, nomeadamente, ajudando, de uma vez por todas, a criar condições financeiras para construir um cadastro (reclamado há muito pelos agricultores) que ajude a identificar e antecipar cenários que, emmuito, beneficiariam a rentabilidade da cultura. Veremos se está para breve. PEPAC e citrinos: os desafios são muitos (e exigentes) BASF Agricultural Solutions lança em 2022 o programa 'Global de Carbono na Agricultura' Programa que permite aos agricultores reduzir as suas emissões de CO2 será lançado em várias fases ao longo deste ano. Com a agricultura a ser responsável por cerca de 20% das emissões globais de CO2, as práticas agrícolas eficientes em termos de carbono podem contribuir significativamente para combater as alterações climáticas. A BASF irá estabelecer um programa que permite aos agricultores rastrear e lucrar com as práticas de redução das emissões de CO2, sublinhando os seus esforços para contribuir para o combate às alterações climáticas. O programa Global de Carbono na Agricultura apoiará o compromisso da BASF Agricultural Solutions de reduzir a pegada de carbono por tonelada de cultura produzida em 30% até 2030 no trigo, soja, arroz, colza e milho. A BASF lançará este programa em várias fases a partir de 2022. O Programa Global de Carbono na Agricultura irá promover práticas agrícolas sustentáveis e fomentar a melhor utilização de todo o portefólio de produtos da BASF para os agricultores - desde sementes, produtos químicos e biológicos inovadores na proteção de culturas, até à agricultura digital e soluções de gestão de fertilizantes. O programa tem por base um conjunto de ferramentas de sustentabilidade para orientar e avaliar a evolução da sua implementação. Desta forma, ajudará os agricultores a tomar decisões equilibradas que contribuam para reduzir as emissões na exploração agrícola e a sequestrar mais dióxido de carbono no solo. Além disso, a BASF irá construir uma plataforma global para permitir aos agricultores gerar créditos de carbono de certificadores reconhecidos que levarão a segundos fluxos de receitas pelos seus esforços de redução do mesmo.
6 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER CLAAS e Grupo Carraro intensificam a cooperação A CLAAS e o Grupo Carraro estão a alargar a sua longa parceria de produtos às áreas dos recursos humanos e das práticas de sustentabilidade. A CLAAS e o Grupo Carraro estão a alargar a sua cooperação de décadas após a assinatura de um novo acordo que, para além do desenvolvimento e produção de tratores especiais e compactos e o fornecimento de eixos e componentes de tratores, inclui a transferência de know-how mútuo e o intercâmbio de competências nos domínios dos recursos humanos e das melhores práticas emmatéria de sustentabilidade. A parceria entre as duas empresas tem uma longa história. Além de eixos e componentes, a Carraro tem vindo a fabricar o eixo dianteiro dos tratores ARION 400 fabricados em Le Mans (França) desde que a CLAAS assumiu o controlo da Renault Agriculture em 2003. A parceria inclui também o desenvolvimento e produção de tratores para vinhas e pomares, assim como tratores compactos. Ambas as empresas familiares lançaram agora as bases para ummaior crescimento. Isto converte o Grupo Carraro na terceira empresa com a qual a CLAAS estabeleceu uma parceria estratégica, e a primeira fora da Alemanha. “Um objetivo claro, a curto e médio prazo, do nosso compromisso é aumentar as vendas e a quota de mercado nos segmentos de tratores especiais e compactos”, explica Thomas Böck, CEO do CLAAS. “Para alcançar os nossos objetivos, estamos a investir juntos em novos desenvolvimentos, mas também nas competências dos nossos empregados e na transferência de conhecimentos”, acrescentou. Além de Cathrina Claas-Mühlhäuser, Presidente do Comité de Acionistas, e do próprio Böck, vários membros do Conselho Executivo da CLAAS e membros da Divisão de Tratores da CLAAS, reuniram-se com o Presidente e Vice-Presidente do Grupo Carraro, Enrico e Tomaso Carraro, bem como com o CEO, Andrea Conchetto, e outros membros da direção na sede da empresa em Campodarsego, Itália. Em novembro de 2021, a CLAAS apresentou a renovada série de tratores NEXOS fabricados pelo Grupo Carraro com a norma de emissões Stage V, novas caraterísticas tecnológicas e um nível de equipamento mais elevado. Com base numa cooperação ainda mais estreita, novos modelos serão lançados este ano na SIMA, em Paris, de 6 a 10 de novembro. No futuro, a cooperação estratégica não se limitará apenas a áreas puramente técnicas, tais como o desenvolvimento e especificação de tratores e o fornecimento de eixos pelo Grupo Carraro, mas também na área da Responsabilidade Social das Empresas (RSE). “A nossa decisão de intensificar a cooperação com o Grupo Carraro baseia-se numa forte confiança mútua e num aprofundamento fundamental das nossas competências que têm crescido ao longo de muitos anos”, diz Böck. “Por conseguinte, funcionários selecionados do Grupo Carraro trabalharão nas instalações da CLAAS durante curtos períodos de tempo e vice-versa. Para além da produção, isto incluirá também funções administrativas na unidade de negócio de pequenos tratores. Ambas as empresas familiares beneficiarão desta transferência de know-how a médio e longo prazo e reforçarão a sua cooperação e a sua ligação em termos de valores de marca”, conclui.
Para um mundo cada vez mais saudável A estratégia da Tradecorp baseia-se numa série de atributos que nos definem e estabelecem o nosso caminho à medida que continuamos a ser uma empresa de referência para a qualidade e profissionalismo no setor da nutrição vegetal especializada. Na Tradecorp, estamos cientes da necessidade de promover uma agricultura mais produtiva, ecológica e sustentável. Para isso, a nossa inovação baseia-se em oferecer aos nossos clientes soluções que lhes permitam produzir mais com menos, aumentando a eficiência, favorecendo o desenvolvimento sustentável e, finalmente, proporcionando maior rendimento para os seus investimentos e esforços. Contactos Alameda dos Oceanos, LOTE 1.06.1.1 1990-207 LISBOA, PORTUGAL www.tradecorp.pt Tradecorp Portugal - Linkedin
8 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Paulo Fardilha lidera equipa do CNEMA na organização da Agroglobal 2023 A Agroglobal irá realizar-se em setembro de 2023 e iniciou já o seu trabalho com a escolha do responsável pela organização da feira, que transita da anterior entidade - a Valinveste - para os quadros do CNEMA. Esta nova mudança, afiança a organização, “traz consigo o conhecimento e experiência adquiridos para a montagem e realização da Agroglobal no seu novo espaço”. “Só com os melhores se poderá ambicionar uma feira com um patamar de excelência que satisfaça os expositores e todos os profissionais do setor agrícola que a frequentam. A pessoa escolhida foi Paulo Fardilha, engenheiro agrónomo, ligado à organização da Agroglobal desde a primeira edição, colaborando com Pedro Torres e Manuel Paim”, esclarece a organização, em comunicado. Segundo Paulo Fardilha, ”este é mais um desafio profissional e, simultaneamente, uma honra ter sido escolhido para a continuidade e realização desta estimulante feira profissional agrícola. Espero contar com o entusiasmo e colaboração dos expositores para recriar as melhores soluções que demonstrem uma agricultura moderna e inovadora”. Está assim lançado o trabalho de preparação, montagem e organização da Agroglobal 2023, no seu novo local: o Centro Nacional de Exposições, em Santarém. Para a Administração do CNEMA, a Agroglobal é não apenas um projeto marcante para este espaço, mas a afirmação reveladora da importância social e económica de todo o setor Agro no País, dos agricultores e dos eventos ligados ao mundo rural. New Holland patrocinadora oficial da Volta a Itália 2022 A marca acompanhará os melhores ciclistas do mundo nas estradas, dentro e fora de Itália, à medida que enfrentam as 21 etapas da Grande Volta do ano. “Estamos muito entusiasmados com este patrocínio. A New Holland é conhecida pela sua vasta rede e estreita relação com os seus clientes, e com esta colaboração, durante as três semanas da Volta a Itália, estaremos ao lado dos muitos fãs e comunidades rurais que acompanham a competição com paixão. Juntar-nos-emos a eles nas estradas do país, apoiando em conjunto os melhores ciclistas do mundo à medida que estes passam pelas cidades e por todo o campo”, afirma Sean Lennon, Vice-Presidente da New Holland Ag. na Europa. A Volta a Itália é uma das prestigiadas Grandes Voltas anuais com duração de três semanas, e é normalmente a primeira a ser realizada no ano, seguida da Volta a França e da Volta a Espanha. Agora está na sua 105.ª edição, mas fez a sua estreia em 1909. A edição de 2022 deverá começar em Budapeste, a 6 de maio, e continuar na Hungria para as três primeiras etapas antes de rumar a Itália. A Grande Volta italiana terminará a 29 de maio, quando os ciclistas tiverem completado as esgotantes 21 etapas. “O patrocínio da Volta a Itália é perfeito para a New Holland”, acrescenta Carlo Lambro, presidente da marca New Holland, lembrando que é “muito importante partilhar com a New Holland os valores de poder, inovação, determinação, paixão e sustentabilidade que estão no centro de tudo o que fazemos. Através desta colaboração, com um evento desportivo que é seguido tão extensamente em todo o mundo, com muitos adeptos nas comunidades agrícolas, a marca New Holland alcançará grande visibilidade devido à inovação, tecnologia avançada e desempenho que oferece aos clientes”.
10 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER aQuacer: cereais juntam-se para promover a eficiência no uso da água As medidas de adaptação e mitigação às alterações climáticas são uma prioridade mundial. Portugal encontra-se entre as zonas europeias commaior exposição e vulnerabilidade aos impactos da mudança dos padrões climáticos. Esta realidade afeta já os nossos sistemas de produção agrícola. O regadio revela-se, assim, determinante para um país com um clima mediterrânico como o nosso e o uso eficiente da água representa, cada vez mais, um desafio para a agricultura nacional. Querendo fazer parte da solução, a ANPROMIS (milho), a ANPOC (cereais praganosos) e o COTARROZ (arroz), juntamente com o COTR e o IPMA, uniram-se para responder ao repto da Fundação Calouste Gulbenkian de valorização da água no setor agroalimentar, tendo visto a sua candidatura ao concurso de apoio à demonstração na gestão da água da rega, recentemente aprovada. As cinco entidades vão, assim, arrancar com um projeto de um ano, o aQuacer, para promoção do uso eficiente da água nas culturas dos cereais através da organização de dez ações de demonstração específicas para cada tipo de cultura e adaptadas às regiões onde predomina o seu cultivo. Estão pensadas ações para a cultura do milho no Ribatejo e no Vale do Mondego; ações para os cereais praganosos no Alentejo; e iniciativas para a cultura do arroz nestas três zonas geográficas. No final do projeto, será organizada uma conferência de balanço e apresentação das principais conclusões e linhas de atuação futuras. 'Inovação e tecnologia' é o tema da edição de 2022 da Feira Nacional de Agricultura Feira Nacional de Agricultura (FNA’22) realiza-se de 4 a 12 de junho, no CNEMA, em Santarém. Revista Agriterra é media partner. O Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA) volta a ser palco do evento em 2022 que elegeu o tema da 'Inovação e Tecnologia' como mote para este ano. A Feira Nacional de Agricultura/Feira do Ribatejo, um dos certames mais consolidados no panorama das feiras agrícolas em Portugal, apresenta-se como a oportunidade ideal para o lançamento e divulgação de novos produtos, para a promoção de novos serviços e ainda para a partilha de conhecimentos entre profissionais e público. Saiba mais aqui: https://efna.pt/ Grades rotativas Herculano em parceria com a italiana FALC Em parceria com a reconhecida marca italiana FALC, a Herculano disponibiliza ao mercado três modelos diferentes de grades rotativas: a FOX, FOX P e a KRATOS P. Estas grades são essencialmente direcionadas para profissionais e atualmentemais utilizadas nas zonas onde prevalece a cultura do milho. Os três modelos disponíveis, FOX, FOX P e KRATOS P, satisfazem uma ampla gama de necessidades, diretamente relacionadas com a dimensão do terreno e a potência do trator. A Herculano dispõe desde modelos mais simples e económicos até aos mais complexos, como é o caso da KRATOS P com rolamentos cónicos, facas de 18mm com engate rápido para facilitar a sua substituição e cardan com limitador automático de torção.
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ENTREVISTA 12 FRANCISCO AVILLEZ, COORDENADOR CIENTÍFICO DA AGRO.GES “Um dos grandes desafios do PEPAC passa pela equidade entre produtores e regiões” Ana Clara A Consulta Pública portuguesa ao Plano Estratégico da PAC - PEPAC para o período 2023-2027 terminou a 6 de dezembro e o documento foi entregue à Comissão Europeia no final do ano. Qual é a sua perceção de todo o processo em Portugal, que desafios encerra e como viu algumas críticas do setor ao curto espaço de tempo que houve para a discussão pública? Como sabe, tenho acompanhado a discussão sobre o tema da Política Agrícola Comum (PAC) e, quanto ao timing, não vejo que tenha havido uma situação muito diferente relativamente a situações anteriores. O que houve foi um processo muito mais complicado, tanto a nível de Bruxelas como ao nível das decisões nacionais. Foi um processo sucessivamente adiado e prolongado e isso, obviamente, teve implicações no modo como internamente decorreu a discussão. Houve, como sabe, uma tomada de posição de um grupo de peritos, pelo qual tenho todo o respeito, que acharam que no processo de diagnóstico não se tinha ido tão longe como se devia ir, sobretudo, do ponto de vista do levantamento das "É indispensável que continuemos a lutar por aquilo que têm sido os principais objetivos setoriais dos últimos anos e por ummundo rural vivo", afirma Francisco Avillez. Francisco Avillez, Coordenador Científico da AGRO.GES, é um dos especialistas mais respeitados em Portugal no que à Agricultura diz respeito. Nas últimas décadas tem contribuído para reflexões decisivas do setor, com especial destaque para a Política Agrícola Comum (PAC). Foi sobre o Plano Estratégico da PAC nacional para o período 2023-2027, entregue à Comissão Europeia no final de dezembro passado, que se centrou esta entrevista. Resiliência, competitividade e coragem para manter o Mundo Rural vivo são algumas das principais ideias lançadas pelo professor.
ENTREVISTA 13 necessidades, potencialidades e limitações da Agricultura nas diferentes regiões do País. Isso acabou por ser um ponto central das críticas. Mas é preciso lembrar que a Comissão obrigou a realizar diagnósticos para os nove objetivos específicos do PEPAC, o que deu, claro, mais trabalho. Reconheço, por isso, que no âmbito do trabalho técnico feito pelo Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP), não era muito fácil ir muito mais longe em alguns aspetos. Considera que em janeiro de 2023 estaremos prontos para começar a executar o Plano? E o que vai acontecer este ano, a nível de etapas? Como sabe, o Plano foi entregue no final de 2021, ainda incompleto em algumas coisas, porque o próprio Regulamento foi aprovado no Conselho muito recentemente. Ainda existem aspetos que não sabemos como vão ser definidos, como é o caso do Green Deal, que irá, certamente, ter ainda implicações no âmbito daquilo que poderão vir a ser algumas medidas do PEPAC. Essas discussões vão demorar quanto tempo? Durante o primeiro semestre? Não sei muito bem, mas creio que o primeiro trimestre deste ano vai ser decisivo. Creio que a Comissão irá ter uma primeira reação aos documentos que foram entregues e que depois vai obrigar, ou não, a alterações e a justificações de cada Estado-membro para o que foi proposto. Por outro lado, há ainda coisas que irão sair em termos regulamentares e que têm que ver, nomeadamente, com as restrições associadas à expansão da Agricultura Biológica ou com a redução da quantidade de herbicidas utilizados, etc. No entanto, não acho que venham a existir grandes alterações de fundo ao documento entregue por Portugal. Prevejo, assim, boas expectativas para se conseguir até dezembro de 2022 aprovar tudo, de forma a que o PEPAC possa entrar em vigor em janeiro de 2023. Falemos então da proposta portuguesa. Quais são os impactos mais significativos nesta nova PAC e de que forma irá afetar o setor ao nível da equidade, não só dos apoios como das regiões? A pequena e média agriculturas e de baixa densidade serão efetivamente tidas emconta e incluídas no enorme desafio da transição climática e digital? Um dos primeiros grandes desafios vai ser como se poderá alcançar uma maior equidade dos apoios entre produtores e regiões. Há, de facto, diferenças que estão associadas à dimensão das explorações, as quais não são ultrapassáveis com uma política agrícola desta natureza, mas têm a ver com o modelo histórico de atribuição dos direitos, dos apoios diretos ao rendimento, o qual é responsável pelas desigualdades que se têm vindo a verificar. A questão é que já devíamos ter começado a fazê-lo nas reformas anteriores e agora temos uma situação, em que alguns setores vão ser muito mais penalizados que outros e, sobretudo, mais do que seria desejável, por via desta alteração do modelo de atribuição dos direitos, nomeadamente, no que diz respeito à necessidade de fazer com que haja uma convergência do pagamento base para um valor igual para todos em 2026. “O VALOR DO PAGAMENTO BASE POR HECTARE VAI PASSAR A SER IDÊNTICO PARA TODOS” Este ponto aproxima-nos de uma maior equidade nos apoios? Sim, porque atualmente existem enormes diferenças em termos de valores por hectare. O que vai acontecer é que o valor do pagamento base por hectare vai passar a ser idêntico para todos. É claro que isto não resolve uma outra desigualdade, que é o facto de as explorações terem dimensões muito diferentes. A diferença é que, agora,
ENTREVISTA 14 para todos os hectares, o apoio de base ao rendimento vai passar a ser idêntico. As verbas disponíveis para os pagamentos base também vão ser reduzidas por via da importância maior que se atribuem a outras medidas, como sejam, o pagamento redistributivo, o regime da pequena agricultura ou os apoios climáticos. Para além disso, vai ser possível aumentar o número de hectares que, até agora, têm vindo a beneficiar desses direitos, assim como o número de beneficiários desses apoios. Tudo isto vai fazer com que, nos próximos anos, em termos médios, se passe de um valor para o apoio base ao rendimento da ordem dos 130 euros/hectare para os 80 euros/hectare. Algumas explorações e sistemas de produção irão ser beneficiados, mas aqueles que, à partida, têm apoios mais elevados por hectare irão ser, necessariamente, mais penalizados, os quais correspondem aos sistemas de agricultura mais intensivos, como sejam, o arroz, o tomate para indústria, o milho, o leite e os bovinos de carne intensivos. Relembro, ainda, que uma outra forma de garantir uma maior equidade irá ser a do reforço do Pagamento Redistributivo e do Regime da Pequena Agricultura. Oque se propõe no caso do Pagamento Redistributivo? No Pagamento Redistributivo propõe-se um aumento para um mínimo de 10% das verbas que lhe irão estar atribuídas. Por outro lado, propõe-se a sua concentração nas explorações de menor dimensão. O que até agora consistia num pagamento de 120 euros/hectare para os primeiros 20 hectares elegíveis de todas as explorações vai passar a ser de 120 euros/hectare para os primeiros 20 hectares elegíveis para as explorações com menos de 100 hectares. Pretende-se, desta forma, alcançar um efeito positivo nos resultados económicos das explorações de menor dimensão. Acha que vai haver muitos agricultores que vão optar pelo Regime da Pequena Agricultura? As verbas disponíveis no âmbito do Regime da Pequena Agricultura vão ser também aumentadas, o que, conjugado com a prioridade dada aos chamados territórios mais vulneráveis, vai levar, de acordo com algumas estimativas, a uma duplicação do número de pequenos agricultores que por ele poderão vir a optar. Que impactos esta alteração irá provocar nestes casos? Estes impactos, mais negativos, levantam a questão de se saber como é que se poderão compensar estes efeitos, de modo a tornar mais resilientes alguns desses setores que são muito importantes, quer do ponto de vista do abastecimento do mercado interno, quer do ponto de vista da exportação. O que antevê para aumentar esta resiliência que as empresas vão precisar? Este aumento pode ser fundamentalmente alcançado através dos Pagamentos Ligados à Produção (os chamados Pagamentos Associados), que vão ser aumentados através "Estamos a assistir a um grande entusiasmo e dinâmica no contexto da Agricultura portuguesa, o que vai ser decisivo nos próximos anos para conseguirmos alcançar uma intensificação tecnológica sustentável"
ENTREVISTA PERFIL Francisco Avillez é licenciado em Engenharia Agronómica (ISA), pós-graduado em Economia do Desenvolvimento Rural (Institut Agronomique Méditerranéan) e doutorado em Economia Agrária (ISA). Professor Catedrático Emérito do ISA, UL, na área da Economia e Política Agrícola, é sócio fundador e Coordenador científico da AGROGES e membro dos Grupos de Peritos para a Reforma da PAC pós-2013 e pós-2020. 15 de um reforço muito significativo dos pagamentos às vacas leiteiras, ao arroz e ao tomate para indústria, exatamente para os compensar dessas reduções. Por outro lado, vai ser introduzido este tipo de pagamentos a alguns setores e produtos que até agora dele não beneficiavam, como sendo as proteaginosas, os cereais de outono/inverno, o milho grão e de silagem e as sementes certificadas. São, assim, novos setores que irão ser beneficiados por via dos pagamentos ligados à produção e que, em grande parte, corresponderão a uma forma de compensação pela penalização que irão sofrer por via do modelo de convergência total do pagamento base. Podemos dizer que este é o caso mais evidente em que a ajuda ao sistema produtivo é mais visível? É. Contudo, em termos percentuais, estas verbas não são mais elevadas do que as que já existiam. Na verdade, a crítica que se faz aos Pagamentos Ligados, de enviesarem as decisões tomadas pelos agricultores, optando por soluções produtivas e tecnológicas que não são as mais eficientes, não se justificam, emminha opinião, na situação atual porque se está a atravessar ummomento difícil em consequência da crise pandémica, e por outro lado, porque vamos penalizar de forma muito significativa os resultados económicos destes setores. A outra crítica que se faz é a de que ‘lá vamos nós outra vez’ beneficiar mais alguns setores que, à partida, são os mais beneficiados. Mas a PAC não é uma política restritiva, mas sim setorial, e nessa medida tem que ter em atenção a questão dos setores que se pretende promover e defender face ao contexto económico e social.
ENTREVISTA 16 Que verbas vão estar disponíveis para este tipo de medidas? No que respeita ao apoio ao rendimento base, comum a todos os agricultores, as minhas estimativas, permitem-me prever que se irá verificar uma redução de 43% até 2026. Esta redução não é só por via da convergência do pagamento base, mas também resultado da eliminação do Greening, que atualmente funciona como um apoio ao rendimento. Em simultâneo, o montante que vai estar afeto ao Pagamento Redistributivo e ao Regime da Pequena Agricultura, irá aumentar cerca de 18%. No que se refere aos Pagamentos Ligados, vai haver um ligeiro aumento por via das transferências de verbas do 2º para o 1º Pilar, com uma redução dos apoios à Produção Animal, mas com um aumento significativo (180%) do apoio à Produção Vegetal. Quanto ao terceiro desafio do PEPAC? Quanto à viabilização económica de um conjunto de sistemas de ocupação e uso do solo que, não tendo condições para serem competitivos, poderão vir a ser relevantes do ponto de vista ambiental, as medidas propostas pelo PEPAC são importantes para o combate às alterações climáticas, para o uso sustentável dos recursos naturais, para a preservação da Biodiversidade e para o aumento da coesão económica e social das zonas rurais mais fragilizadas. Quais são, neste ponto, as principais reservas que têm sido colocadas? Emgeral, estasmedidas têmsido bemacolhidas por se considerar que são importantes para odesenvolvimento sustentável da agricultura portuguesa. As críticas apontadas têm a ver, por um lado, com a ideia de que elas deviam ter sido pen- 'A AGRICULTURA PORTUGUESA, DESAFIOS PARA O FUTURO' 'A agricultura portuguesa, desafios para o futuro' é o título da obra do professor Francisco Avillez, coordenador científico da AGRO.GES, e que nas últimas décadas tem contribuído para reflexões decisivas do setor agrícola em Portugal, com especial destaque para a PAC. A obra, que reúne vários textos publicados entre 2015 e 2020, foi apresentada na Agroglobal, em setembro de 2021, e percorre vários momentos do setor, desde a adesão de Portugal à então Comunidade Europeia, passando pela aplicação da PAC, passada e futura, mas também com reflexões sobre a neutralidade carbónica e a bioeconomia. Ao longo das 360 páginas do livro, Francisco Avillez, analisa de forma detalhada vários temas estruturais do setor, com especial relevo para a importância de uma gestão sustentável do solo, decisiva para o crescimento futuro da agricultura nacional. São muitos os problemas e desafios da agricultura portuguesa, e Francisco Avillez não esquece nenhum. Deixamos alguns dos temas mais importantes abordados na obra: a viabilidade económica das explorações agrícolas em Portugal, a produtividade, as exportações e o crescimento económico do agroalimentar, os Eco- -Regimes, a reforma da PAC, claro, e a nova arquitetura verde para a agricultura portuguesa. No último capítulo do livro, o destaque vai para 'a água e a agricultura em Portugal'. Francisco Avillez analisa ainda a reforma da PAC em tempos de pandemia. No capítulo que dedica ao tema, o professor é claro: "é cada vez mais consensual a ideia de que não é socialmente aceitável a manutenção futura das enormes desigualdades atualmente existentes entre os apoios ao rendimento dos agricultores portugueses no âmbito da PAC", lê-se na obra. Para o professor, “estas desigualdades decorrem, no essencial, do modelo de cálculo e aplicação dos pagamentos base atualmente em vigor, uma vez que dele decorre uma repartição de direitos em número inferior à superfície potencialmente elegível e com valores unitários muito diferentes entre si”. No que respeita aos Eco-Regimes (que visam sobretudo apoiar a proteção ambiental e a luta contra as alterações climáticas), o autor também é muito assertivo: “as verbas disponíveis para financiar os pagamentos Eco-Regimes deverão ser predominantemente orientadas para incentivar a expansão dos dois seguintes tipos de sistemas de ocupação e uso dos solos agrícolas e agroflorestais: a agricultura de conservação (ou regenerativa) e os prados e pastagens permanentes melhoradoras, devendo estes últimos garantir uma compensação integral da redução prevista para os prémios às vacas aleitantes”. Num tempo decisivo para a aplicação da nova reforma da PAC, a obra de Francisco Avillez é essencial e obrigatória, para se entender como e porquê chegamos aqui, e igualmente para compreender os desafios que estão em causa no futuro da agricultura portuguesa.
ENTREVISTA 17 sadas numa base mais regionalizada e, por outro lado, que as verbas que lhes estarão afetas não são consideradas suficientemente ambiciosas para alcançar os objetivos visados. Quanto ao combate às alterações climáticas, com que verbas contamos? Para as alterações climáticas, e excluindo as medidas do Greening, as verbas vão aumentar 30%. Tudo o que neste momento tem a ver com Ambiente e Clima vai passar de cerca de 230 milhões para 300 milhões de euros. É aqui que se materializam os apoios ao ambiente e ao clima? Sim, sem dúvida, ao nível dos Eco-Regimes e das Medidas Agroambientais, que estão pensados para contribuir para a mitigação dos gases de efeito de estufa, para o aumento da capacidade de sequestro de carbono e para a adaptação às alterações climáticas dos sistemas de produção agrícola e, além disso, conseguir uma gestão mais sustentável do uso do solo e da água e a preservação da Biodiversidade e a manutenção de determinado tipo de paisagens. ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS A Agricultura portuguesa está verdadeiramente consciente do problema e dos impactos das alterações climáticas no setor? Do que tenho acompanhado, houve uma alteração profunda da perceção dos agentes económicos da Agricultura sobre as alterações climáticas e há umempenho enorme na luta contra o problema. Além disso, a Agricultura tem um papel importante, não só do ponto de vista da adaptação, como da mitigação e sequestro. Muitas destas medidas que agora são introduzidas, nomeadamente, no que respeita aos Eco-Regimes, têm fundamentalmente a ver com esta problemática que é fulcral para a descarbonização do setor agrícola nacional. A utilização das energias renováveis na Agricultura é outra componente importante? Sim, sem dúvida, sendo que já começou a haver apoios nesse sentido, no contexto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Falemos então do desafio da competitividade. Este desafio vai ser também decisivo. De facto, há um conjunto de sistemas de produção que têm condições para vir a ser competitivos, e é indispensável promover um conjunto de iniciativas que os possam tornar cada vez mais eficientes, com ganhos substanciais na sua produtividade económica e com maior capacidade de produzir em condições concorrenciais cada vez mais exigentes do ponto de vista da procura de alimentos saudáveis e ambientalmente sustentáveis. Mais alguma coisa que gostasse de destacar? Estamos a assistir a um grande entusiasmo e dinâmica no contexto da Agricultura portuguesa, o que vai ser decisivo nos próximos anos para conseguirmos alcançar uma intensificação tecnológica sustentável. Para que tal aconteça vai ser essencial ter em linha de conta as questões climáticas e ambientais, mas também a sua competitividade económica. Que mensagem gostaria de deixar ao setor agrícola português? É indispensável que continuemos a lutar por aquilo que têm sido os principais objetivos setoriais dos últimos anos e por um mundo rural vivo. O setor tem sido capaz de, perante as adversidades, não parar. É fundamental mostrar que há capacidade tecnológica e empresarial para melhorar e continuar a apostar, não cedendo ao processo de “diabolização” a que, injustamente, a componente mais dinâmica da agricultura portuguesa tem estado sujeita nos últimos anos. n
18 PRAGAS E DOENÇAS NA FRUTICULTURA Fruticultura: doenças e pragas, uma ameaça constante A Fruticultura tem registado uma enorme evolução nas últimas décadas em Portugal. No vasto âmbito da agricultura nacional, o setor carateriza-se por uma enorme volatilidade, resultante da grande exposição a fatores de natureza climática e económica, “condição que deverá estar sempre presente na análise da sua evolução (GPP, 2011)”. Um desses fatores são as pragas e doenças que, associadas às alterações climáticas, impactam, e muito, o rendimento da atividade. Passamos em revista algumas das principais doenças e pragas que afetam a Fruticultura portuguesa e também a melhor forma de as tratar. Ana Clara POMÓIDEAS Comecemos pelas pomóideas (maçã, marmelo e pera), em que se consideram as seguintes espécies como as principais pragas a nível nacional: • Ácaros: aranhiço vermelho (Panonychus ulmi Koch) • Afídeos: afídeo ou piolho cinzento (Dysaphis plantagínea), afídeo ou piolho verde (Aphis pomi De Geer) e Pulgão lanígero (Eriosoma lanigerum Hausm). • Cochonilhas: cochonilha de São José (Quadraspidiotus perniciosus Comst) • Dípteros: mosca do mediterrâneo (Ceratitis capitataWied) e cecidómia (Dasineura pyri Bouché) • Lepidópteros [bichado da fruta Cydia (=Laspeyresia) pomonella L e mineiras (Lythocollethis blancardella F., Lythocollethis coryfoliella Haw., Leucoptera scitella Zell. e Lyonetia clerkella L.)] • Homópteros: psila (Cacopsyllapyri L.). A Estação Entre Douro e Minho emite regularmente Avisos Agrícolas sobre as doenças da fruta e ajuda-nos a perceber algumas medidas preventivas que devem ser aplicadas face às doenças existentes. Pedrado da macieira e da pereira No caso do Pedrado da macieira e da pereira (Venturia inaequalis/Venturia pyrina), de acordo comaquela Estação, “existe risco de contaminações primárias, durante a ocorrência de períodos de chuva, a partir do estado C-C3 (BBCH 53-54) nas macieiras e do estado C3-D (BBCH 53-54) nas pereiras”. É recomendado o acompanhamento do desenvolvimento das árvores e deve ser aplicado um fungicida apenas se, localmente, estiverem reunidas as condições para as infeções (recetividade das árvores e previsão da ocorrência de chuva). Devem ser feitos tratamentos preventivos, com produtos de contacto ou de superfície, antes da chuva, com tempo seco, aplicando caldas à base de captana, cobre, hidrogenocarbonato de potássio, mancozebe, metirame. Nas 36 horas seguintes ao início de um período de chuva, podem ser aplicados produtos à base de ditianona, ditia-
19 PRAGAS E DOENÇAS NA FRUTICULTURA nona+fosfanato de potássio, dodina. Além de 36 horas após o início das chuvas, aplicar fungicidas penetrantes ou sistémicos: boscalide+piraclostrobina, ciprodinil, ciprodinil+fludioxonil, ciprodinil+ebuconazol, difenoconazol, ditianona+pirimetanil, fenbuconazol, fluopiram+tebuconazol, flutriafol, fluxapiroxad, cresoxime-metilo, cresoxime-metilo+difenoconazol, miclobutanil, tebuconazol, tetraconazol, trifloxistrobina. Para evitar resistências, deve alternar famílias de produtos. Para o combate ao pedrado emModo de Produção Biológico, estão autorizados fungicidas à base de cobre, nas suas diversas formas, até à rebentação. Durante o período vegetativo, devem ser aplicados fungicidas à base de enxofre e de Bacillus subtilis (SERENADE MAX). Moniliose no marmeleiro (Monilia linhartiana) Deve proteger as variedades sensíveis, atacadas frequentemente pela moniliose, na fase de floração e formação dos frutos. Fungicidas homologados: boscalide+piraclostrobina (SIGNUM), ciprodinil (CHORUS 50 WG), fludioxonil (GEOXE), tiofanato-metilo (TOCSIN WG). Entomosporiose do marmeleiro (Entomosporiummaculatum) Corremmaior risco as variedades sensíveis em pomares ou isoladas, onde se verificaram ataques desta doença no(s) ano(s) anterior(es) e os viveiros, que devem ser tratados preventivamente, mesmo que não apresentem sintomas. Não estão homologados em Portugal fungicidas para a entomosporiose. No entanto, alguns fungicidas anti-pedrado têm ação simultânea contra aquela doença. No Modo de Produção Biológico, pode utilizar produtos à base de cobre e de hidrogenocarbonato de potássio contra a entomosporiose: cobre (hidróxido) + cobre (oxicloreto) (AIRONE SC - BADGE WG); cobre (sulfato tribásico) (CUPROXAT, NOVICURE); hidrogenocarbonato de potássio (ARMICARB - ARMICARB JARDIM). PRUNÓIDEAS No caso das prunóideas (ameixa, cereja, damasco, ginja e pêssego), são igualmente várias as doenças e pragas que afetam as culturas. Damos exemplos de algumas: pessegueiro, ameixeira e cerejeira. Lepra do pessegueiro No que respeita, por exemplo à lepra do pessegueiro (Taphrina deformans), o tratamento é mais eficaz se for feito precocemente, aos primeiros indícios do incremento dos gomos foliares. Moniliose da ameixeira Na moniliose da ameixeira (Monilia laxa, Monilia fructigena), falamos da doença mais importante nas prunóideas, devido à destruição de ramos, flores e frutos, diminuindo, consideravelmente a quantidade e a qualidade da produção. O período de floração é de risco de infeção pela Monilia também na ameixeira, sobretudo se decorrerem períodos de chuva e de humidade relativa do ar elevada (> 80%). À queda das pétalas, deverá ser feito um tratamento com um fungicida homologado. No Modo de Produção Biológico contra a moniliose na ameixeira, durante a vegetação, é autorizada a aplicação de caldas à base de enxofre.
20 PRAGAS E DOENÇAS NA FRUTICULTURA Cancro bacteriano da cerejeira O cancro bacteriano (Pseudomonas sp.) é provocado por bactérias do género Pseudomonas e pode causar elevados prejuízos na cultura da cerejeira, sobretudo, em árvores novas, nos primeiros seis anos de vida. • Os sintomas mais visíveis são os cancros nos ramos principais e secundários e nos ramalhetes de maio. Outros sintomas, visíveis entre março e junho: • Os gomos e ramalhetes demaio não rebentam ou rebentam de forma irregular; • Os ramalhetes de maio por vezes abrem, mas as flores abortam; • As folhas ficam pequenas, amareladas, enroladas e secam; • Pequenas manchas nas folhas, castanhas, comum rebordo amarelado; • Os rebentos secam e dobram-se em forma de “báculo”; Pitaia-branca ( Hylocereus undatus), rosa por fora. Foto: Wikipédia. KIWI: CANCRO BACTERIANO DA ACTINÍDEA (PSA) A Psa, Pseudomonas syringae pv.actinidiae, é o agente causal do cancro bacteriano da actinídea, considerada a doença mais grave desta cultura. Pode, em casos mais virulentos, causar a morte das plantas, colocando em causa a sustentabilidade da fileira e provocando importantes prejuízos económicos nos principais países produtores de kiwi, incluindo Portugal (EPPO, 2011/054). Esta doença, detetada em Portugal em 2010, manifesta elevada agressividade e uma dispersão muito rápida, tendo, nos dias de hoje, distribuição generalizada nas regiões produtoras. A nível mundial, a indústria ligada ao setor do kiwi está empenhada no desenvolvimento de estratégias de controlo da doença para conter a pandemia e minimizar as perdas económicas dos produtores, mas sem resultados positivos. Para trabalhar a área do kiwi, foi criado o Grupo Operacional i9kiwi, que visa o desenvolvimento de estratégias que visam a sustentabilidade da fileira do kiwi através da criação de um produto de valor acrescentado. Visão geral do projeto Segundo o i9kiwi, a produção de kiwi ( Actinidia sp. ) é uma importante atividade económica em diversos países, tendo apresentado uma expansão mundial nos últimos anos. Em Portugal, foi a partir da década de 1990 que a produção de kiwi se começou a desenvolver graças ao valor comercial da fruta associado ao baixo custo de produção. Os investimentos têm aumentado nos últimos anos, traduzindo-se num aumento notável da exportação, tendo sido atingido o valor máximo de 13 kton em 2013, equivalendo a 11 milhões de euros. Embora se continuem a verificar fortes investimentos, tendo a área de produção aumentado em 1/3 nos últimos anos, a produtividade tem diminuído, sendo a infeção pela bactéria Pseudomonas syringae pv. actinidiae (Psa) o principal responsável. "O I9Kiwi pretende melhorar a competitividade do País incidindo exclusivamente em atividades de produção primária no setor do kiwi através de diversas tipologias de inovação, nomeadamente inovação de produtos e processos. O I9Kiwi reúne as competências necessárias para suprir lacunas evidentes no setor fitossanitário e na qualidade e diversidade de cultivares e do pólen, associadas a elevados custos de produção", salienta-se na página do projeto.
21 PRAGAS E DOENÇAS NA FRUTICULTURA • Pequenos pontos encortiçados na casca dos frutos; • As árvores definham lentamente ou secam de repente (apoplexia); • As árvores doentes podem ter grandes cargas de frutos, mas de má qualidade e que não amadurecem completamente. A bactéria tem uma “capacidade congelante”, que leva a que gomos, flores e folhas infetadas possam ser danificados por geadas fracas, que não ocorreriam se não estivessem infetadas pela bactéria. Fatores que favorecem o cancro bacteriano: • Invernos muito frios e chuvas abundantes; • Chuvas mais abundantes emdezembro e janeiro; • O stress hídrico de verão, sobretudo depois da colheita, e o excesso de água no inverno tornam as árvores mais sensíveis ao cancro bacteriano; • Deficiência de cálcio no solo (maior sensibilidade de árvores plantadas em solos ácidos); • Variedades e porta-enxertos sensíveis; • Feridas de poda nos ramos, quebra de ramos, cortes de enxertia, feridas de granizo, etc, podem ser porta de entrada das bactérias; • Árvores enxertadas mais alto são menos atingidas; • Árvores até 6 anos sãomais sensíveis. Medidas preventivas: • Não plantar cerejeiras emzonas atreitas a geadas e a frio intenso; • Evitar solos pedregosos emuito ácidos; • Plantar plantas sãs, isentas de cancro bacteriano; • Utilizar variedades e porta-enxertos resistentes ou tolerantes; • Enxertar a meio metro de altura; • Evitar a formação de árvores com a rama muito chegada ao chão; • Estudar o perfil do solo e subsolo e melhorar a drenagem, caso seja necessário; • Corrigir a acidez do solo; • Podar com tempo seco e desinfetar os instrumentos de poda; • Podas no verão, incluindo as de formação. Tratamentos: Na altura do início do inchamento dos gomos, antes da rebentação, pode ser aplicada uma calda à base de cobre nos pomares ou árvores afetadas pelo cancro bacteriano. Contudo, deve ser utilizada a dose mais baixa das indicadas no rótulo do produto comercial a aplicar. Este tratamento pode ter efeitos muito benéficos, sobretudo preventivos, nos pomares jovens. Os fungicidas à base de cobre têm efeito bacteriostático, ou seja, não matam as bactérias, mas reduzem a sua atividade e a reprodução. No Modo de Produção Biológico é permitida a aplicação de caldas à base de cobre no controlo do cancro bacteriano da cerejeira.
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