BA3 - Agriterra

AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO 13 E o terceiro princípio “é a rotação de culturas, como forma de introduzir biodiversidade no sistema. Porque se não tivermos rotação de culturas num solo que tem muitos resíduos e não é mobilizado, vamos aumentar a pressão de infestantes, doenças e pragas, o que iria obrigar à utilização crescente de pesticidas. Só temos verdadeira- mente a agricultura de conservação se tivermos os três princípios em funcionamento numa exploração”, afirma. PAC DEVIA FINANCIAR PRÁTICAS BENÉFICAS PARA O ECOSSISTEMA No âmbito dos fundos europeus, há um apoio para a agricultura de conservação a que os agricultores podem recorrer, que tem financiamentos específicos para estas três componentes, mas não obriga às três, nomeada- mente à rotação de culturas, salienta Mário de Carvalho. O professor defende que “a Política Agrícola Comum (PAC) deveria caminhar no sentido de financiar práticas agrícolas que sejam benéficas para a melhoria do funcionamento do ecossistema. E ainda há muitas situações em que as ajudas até prejudicam a adoção de boas práticas”. Sobre a agricultura biológica, destaca que a possibili- dade de este modo de produção só poder usar alguns produtos, nomeadamente cobre e enxofre, leva a que os produtos possam desenvolver no pós-colheita alguns fungos, do tipo Fusarium , por exemplo, que depois levam ao desenvolvimento de micotoxinas que podem causar algumas intoxicações alimentares e problemas graves de saúde pública. “Os princípios da agricultura biológica estão todos cer- tos, mas são princípios de toda a agricultura. O que está errado na agricultura biológica são as proibições, porque partem de dois princípios, ambos errados: o primeiro é que o principal problema da agricultura é a contaminação com pesticidas – e não é, nem de perto nem de longe. O primeiro é a degradação do solo e o segundo é a perda de biodiversidade – e o segundo erro é considerar que os produtos de síntese são mais prejudiciais que os tra- dicionais, como o cobre e o enxofre. Aliás, se não fosse a importância deles na agricultura biológica já tinham sido proibidos, tendo em conta as exigências atuais. Por isso, a contaminação do solo é muito maior na agricul- tura biológica do que na não biológica. Além disso, para controlar as infestantes nas culturas anuais, por exemplo, como não são permitidos herbicidas, a mobilização do solo é a única forma. No caso da agricultura de conservação, “a rotação de culturas evita muito essas infestantes porque com a rota- ção de culturas não temos sempre o mesmo hospedeiro no terreno”, mais ainda se combinada com “critérios de seleção genética de plantas que não olhem apenas para os índices de produtividade mas também à resistência a pragas e doenças”. MELHORAMENTO GENÉTICO DEVE SER USADO PARA A SUSTENTABILIDADE DO ECOSSISTEMA “O homem tem de aproveitar todas as possibilidades que a ciência lhe dá para fazer melhoramento genético, se quiser garantir o seu futuro”, considera Mário Carvalho, salientando que nesta altura, “por causa de uma opinião pública negativa, só os privados é que investem nestas técnicas, numa lógica comercial e não de sustentabili- dade do ecossistema”. “Era muito importante o público em geral deixar de ter medo destas tecnologias para ser o Estado a investir, pelo menos, naquilo que são as soluções que têm a ver com o ambiente, para podermos ter plantas que sejam A DIFERENÇA Solo de agricultura de conservação, semmobilização há 18 anos, comparado com solo original da região (que fomos buscar a um campo vizinho). Tem visivelmente muito mais matéria orgânica, porque tem maior heterogeneidade e diversidade de micróbios, permitindo também uma maior retenção de água, que é mais facilmente transportada às camadas mais profundas do solo. “É, ainda, um solo onde é muito mais fácil transitar com as máquinas para tratar da cultura ou entrar com os animais para o pastoreio. A transitabilidade depende da drenagem e da coesão do solo e este é um solo coeso, mas que não está compactado”.

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