OPINIÃO 78 Zero emissões líquidas no mundo real: linhas de orientação A concretização no mundo real do tão anunciado objectivo das zero emissões líquidas não significa a inexistência total de emissões, mas que o saldo entre as emissões e as suas compensações por meio de vários mecanismos e procedimentos apresenta o valor zero. Nuno José Ribeiro, advogado e pós-graduado em Direito da Energia* Para que isso aconteça é necessário a reunião de várias condições, tais como inovação tecnológica, capacidade de fazer passar essa inovação para o quotidiano das pessoas comuns, vontade política e músculo financeiro. A transição para um mundo com emissões líquidas zero parece assustadora. As pandemias globais, a guerra e as alterações climáticas representam enormes ameaças existenciais. Apesar destes obstáculos formidáveis vivemos numa era capaz de rápida adaptação e inovação. O rápido desenvolvimento de vacinas, a adopção generalizada de videoconferências para manter a produtividade durante a pandemia de Covid-19 ou o aumento das vendas online são excelentes exemplos do nosso potencial para inovar e superar desafios. Na verdade, existem obstáculos significativos, mas as soluções estão dentro do nosso alcance. Para aproveitar verdadeiramente o poder da inovação e tornar a transição energética uma realidade, precisamos de compreender os factores cruciais que impulsionam a inovação bem-sucedida. A inovação requer mais do que apenas uma óptima ideia ou um avanço tecnológico. Exemplos históricos de inovação ilustram que mesmo invenções inovadoras precisam das condições certas para prosperar. Uma versão da imprensa, por exemplo, foi inventada na China, 800 anos antes da versão de Gutenberg, em 1440. No entanto, a situação política sob a dinastia Tang limitou a sua adopção generalizada. Por outro lado, a prensa de impressão móvel de Gutenberg floresceu numa Europa politicamente fragmentada, onde havia uma enorme procura por livros. E, hoje, com o domínio do digital sobre o formato papel, até poderíamos dizer que somos testemunhas do homicídio do pai da imprensa, o mesmo Gutenberg. Para uma inovação mudar o mundo tem de ser introduzida no lugar e hora certos, e deve vir de uma entidade capaz de capitalizar a oportunidade. Temos assim os seguintes factores críticos: O ambiente certo Em primeiro lugar, a inovação precisa de um ambiente propício. Os principais factores incluem: • Benefícios compreensíveis e aplicáveis: a inovação deve oferecer benefícios claros e tangíveis que são entendidos pelo público-alvo. . Clima sociopolítico favorável: o ambiente sociopolítico deve ser favorável, com políticas e regulamentos que incentivam a inovação. * O autor escreve no antigo acordo ortográfico.
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