BA15 - Agriterra

VITICULTURA | OPINIÃO 37 Cooperativas e vinificadores de dimensão relevante têm de desenvolver uma estratégia crescente de apoio técnico aos seus viticultores, com especial ênfase no centro e norte do país, dada a pequena dimensão da exploração. O viticultor não é um fornecedor de uvas. É um parceiro estratégico que deve encontrar na cooperativa ou no vinificador um apoio na formação, no conhecimento e na infindável burocracia da Política Agrícola Comum. Sem menorizar os desafios da sustentabilidade ambiental, diria, porém, que bem mais urgente é o problema da sustentabilidade social. Quantos viticultores podam, tratam e vindimam não no momento certo, mas tão só quando conseguiram arranjar equipas para a tarefa. O problema da escassez de mão de obra é significativo e tende a agravar, mas a mecanização (que é muito limitada em vinhas de montanha) apenas o alivia, não resolve. No que diz respeito ao fim da fileira – o mercado –, importa que a promoção seja cada vez mais dirigida a posicionar Portugal como um país de valor, no qual as castas autóctones e as denominações de origem são eixos fundamentais de comunicação, ao invés da 'marca branca' Wines of Portugal, que persegue todos os anos o objetivo mítico de atingir os mil milhões de euros de exportação. Não seria de passarmos a combinar este objetivo com um segundo relativo a preços médios? A promoção dos vinhos está demasiado parecida com a do turismo, todos os anos orientada para mais volume, como se isso fosse possível, ou sequer desejável. Não abordo em detalhe a questão custo dos fatores de produção, pois esta vem sendo tratada pelas confederações, mas ao menos fica registado: o custo de gasóleo e eletricidade não pode continuar a penalizar o viticultor português face aos congéneres espanhóis e franceses. Numa altura em que o processo eleitoral favorece o repensar das políticas públicas, é um bom momento para trazer a agricultura de novo para a agenda. A atividade agrícola não é uma espécie de jardinagem para que a paisagem se apresente verde nos passeios de fim de semana. A agricultura é a produção dos bens alimentares, é a ocupação produtiva do território, e é a proteção do ambiente, uma vez que o agricultor é o primeiro interessado em viver e produzir num contexto de equilíbrio ambiental. Aceite esta visão estratégica, o Ministério da Agricultura não pode ser continuamente esvaziado de relevância governativa, como vinha sendo no passado recente. Se não cuidarmos da nossa viticultura, o risco real é de passarmos do atual excedente para uma futura e irreversível escassez. A menos que nos habituemos a importar granel de Espanha e fizermos de conta que ninguém sabe. n

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