BA14 - Agriterra

OLIVAL 54 de cada amostra de explorações, e não ao sistema de produção em si. Por exemplo, a maioria das oliviculturas ecológicas está localizada em áreas de elevada inclinação, o que implica menores rendimentos e maiores custos de produção. Portanto, o olival ecológico, em comparação com o olival convencional, poderia ser menos rentável justamente por estar localizado em zonas agronómicas menos férteis e mais complicadas de gerir, e não pelo mero fato de ser ecológico. Idealmente, para obter uma comparação imparcial de ambos os sistemas de produção, devemos comparar o desempenho económico de uma olivicultura convencional com o desempenho económico correspondente dessa mesma exploração após a conversão para olival ecológico, de modo a que as diferenças observadas só poderiam ser atribuídas à alteração do sistema de produção. Tendo em conta que a realização deste trabalho experimental implicaria um grande investimento de tempo e dinheiro, têm sido utilizadas técnicas de emparelhamento, que permitem estimar o efeito que um tratamento tem (no nosso caso, o regime de produção ecológica) sobre temas similares (explorações convencionais e ecológicas com características estruturais e produtivas semelhantes). Esta técnica é explicada na secção seguinte. MÉTODO PARA A COMPARAÇÃO IMPARCIAL As técnicas de emparelhamento (ou matching na terminologia inglesa) consistem basicamente em formar grupos de casos (no nosso caso, olivais) o mais parecidos possível entre si em relação a um amplo conjunto de variáveis que podem afetar o desempenho económico da exploração e/ou a probabilidade de que ela seja convertida em ecológica (por exemplo, o tamanho da exploração, a fertilidade da terra, a idade e a formação do olivicultor, entre outros.). Em cada grupo haverá oliviculturas ecológicas e oliviculturas convencionais, de forma que a diferença que observamos nos indicadores de desempenho económico entre os dois tipos de explorações, dentro de cada grupo, pode ser atribuída quase na totalidade ao facto de serem ecológicas ou convencionais, uma vez que relativamente às restantes variáveis todas as explorações do grupo são semelhantes. Por fim, o efeito agregado de todos os grupos é obtido pela ponderação do efeito calculado em cada grupo, de acordo com o número de explorações contidas em cada um desses grupos. Dentro das alternativas de emparelhamento, para este trabalho foi escolhida a técnica de emparelhamento completo (full matching), pois utiliza todas as explorações das quais existem dados disponíveis para fazer comparações2. RESULTADOS Os resultados obtidos com a aplicação da técnica de emparelhamento para a campanha de 2020, ano representativo de uma campanha “média”, podem ser vistos na última coluna da Tabela 1, onde é mostrada a diferença imparcial dos diferentes indicadores de desempenho económico entre os dois sistemas de produção de olival. Podemos ver como, após a aplicação da técnica de emparelhamento, as diferenças no desempenho económico entre os sistemas de produção de olivais ecológicos e convencionais são consideravelmente reduzidas. Por exemplo, como mencionado acima, a produtividade da terra do olival convencional é, aparentemente, (sem emparelhamento de explorações) 747 euros/ha superior à rentabilidade do olival ecológico. No entanto, essa diferença é reduzida para apenas 228 euros/ha quando a comparação é feita aplicando o emparelhamento, uma vez que o efeito das diferenças características das explorações de um e outro sistema de produção é eliminado. Isto mostra as grandes diferenças estruturais existentes entre as explorações de olival ecológico e convencional, que no caso da produtividade da terra equivale a uma diferença de 519 euros/ ha (747-228 euros/ha). A menor produtividade dos olivais ecológicos também se traduz em receitas de vendas significativamente inferiores (-228 euros/ha). No entanto, as vendas inferiores dos olivais ecológicos são amplamente compensadas pelo maior nível de ajudas recebidas pelas explorações abrangidas por este sistema de produção (+83 euros/ha). Neste sentido, observa-se que embora os subsídios recebidos pelo olival ecológico do primeiro pilar da PAC (pagamentos diretos) sejam inferiores aos do olival convencional (-66 euros/ha), o contrário acontece com os subsídios do segundo pilar (subsídios à produção ecológica), onde as explorações ecológicas recebem em média 145 euros a mais por hectare. De qualquer forma, o mais relevante é que esta compensação significa que não há diferenças estatisticamente significativas em termos das receitas totais (vendas + subsídios) entre os dois tipos de explorações. O mesmo ocorre com as despesas totais. Como resultado, não há diferenças significativas entre olivais ecológicos e convencionais em termos de rentabilidade. Quanto aos indicadores de viabilidade, os resultados são semelhantes aos dos indicadores de rentabilidade, pois apenas existem diferenças significativas num dos indicadores considerados: a viabilidade económica de longo prazo. Os resultados indicam que as explorações ecológicas são menos viáveis a longo prazo, mas a diferença entre os dois tipos de produção é mínima. Assim, tendo em conta que não existem diferenças significativas nos restantes indicadores nesta dimensão do desempenho económico, pode-se dizer que as explorações de ambos os tipos de produção olivícola apresentam níveis de viabilidade semelhantes.

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