HORTÍCOLAS 73 ficação com Rhizobium melhora a adaptação da alface às condições de stresse, como a salinidade do solo, além de aumentar a sua produtividade num ambiente ideal para o seu desenvolvimento. Outro aspeto relevante observado nos testes em estufa é a capacidade das bactérias inoculadas de melhorar o conteúdo nutricional das plantas de alface, aumentando a concentração de compostos bioativos (Figura 2). A inoculação de estirpes específicas do género Rhizobium induz aumentos de 57 e 76% no teor total de ácidos fenólicos e flavonóis nas folhas de alface em condições normais. Esses compostos polifenólicos têm uma elevada atividade antioxidante e anti- -inflamatória, que está relacionada a efeitos benéficos na saúde humana. Portanto, o aumento de polifenóis devido à inoculação leva a uma melhoria no teor nutricional das plantas, o que poderia ter um impacto positivo no consumidor e na sua saúde, uma vez que a atividade antioxidante destes compostos está associada a um risco mais reduzido de cancro e doenças cardiovasculares. Por outro lado, o utilização de outra estirpe bacteriana de Rhizobium como inóculo de plantas de alface causa um aumento de mais de 10% na concentração de flavonoides totais e outros ácidos fenólicos sob condições de salinidade, em comparação com plantas não inoculadas. Deve destacar-se que a atividade antioxidante desses compostos limita os efeitos negativos da salinidade nas culturas, ao contrabalançar os danos oxidativos causados por este tipo de stresse. A este respeito, tem sido sugerido que a interação de bactérias com a planta desencadeia uma resposta defensiva na planta, que leva a um aumento deste tipo de compostos, o que ajuda a cultura a lidar com as condições ambientais adversas às quais está sujeita. EFEITO DA EXPOSIÇÃO DE COMPOSTOS VOLÁTEIS BACTERIANOS EM PLANTAS Na interação entre bactérias e plantas, as misturas de compostos voláteis (VOC) libertados pelas bactérias podem ser detetadas pelas plantas, que desencadeiam uma resposta. Esta resposta pode resultar na promoção do crescimento da planta ou a indução de resistência a stresses bióticos (patogénicos) e/ou abióticos (como a salinidade). Além disso, o conjunto de compostos voláteis emitidos por microrganismos varia em função das condições de crescimento ou do próprio microrganismo emissor. Num estudo realizado por membros da Universidade de Salamanca, em colaboração com a Universidade do Porto, observou-se que uma estirpe do género bacteriano Rhizobium é capaz de emitir compostos voláteis, e que os compostos emitidos variam diferencialmente em função do tempo e das condições de crescimento da bactéria. Entre os compostos produzidos encontram-se álcoois de cadeia ramificada, cetonas ou terpenos. Além disso, quando foram realizados testes em que sementes de alface germinadas foram expostas aos compostos voláteis emitidos pela bactéria, observou-se uma melhoria no crescimento das plântulas durante os seus estados iniciais de desenvolvimento em comparação com plantas não expostas aos VOC (plantas de controlo) (Figura 3). Estes testes foram realizados em condições controladas e em atmosfera fechada, tanto em plantas submetidas ao stresse salino, como em plantas cultivadas em condições não stressantes. Os resultados mostraram aumentos entre 15% e 70% em vários parâmetros de interesse: comprimento da parte aérea e radicular, bem como o número de folhas e raízes secundárias, tanto em plantas submetidas ao stresse, como em plantas desenvolvidas em condições ideais. Figura 2. Alterações no teor de flavonoides e ácidos fenólicos totais após a inoculação com duas estirpes de Rhizobium, em condições normais (estirpe 1) e salinidade (estirpe 2). CONDIÇÕES NORMAIS SALINIDADE Controlo Rhizobium Flavonoides totais Controlo Rhizobium Ácidos fenólicos totais Controlo Rhizobium Flavonoides totais Controlo Rhizobium Ácidos fenólicos totais
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