2023/2 11 D E Preço:11 € | Periodicidade: 5 edições por ano Maio 2023 - Nº11
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Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Avenida Barbosa du Bocage, 87 4º Piso, Gabinete nº 4 1050 - 030 Lisboa (Portugal) Telefone (+351) 217 615 724 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Nova Àgora Grup, S.L. (100%) Diretora Sónia Ramalho Equipa Editorial Sónia Ramalho, Alexandra Costa, David Pozo, Ángel Pérez Marketing e Publicidade Frederico Mascarenhas e Hélder Marques redacao_agriterra@interempresas.net www.agriterra.pt Preço de cada exemplar 11 € (IVA incl.) Assinatura anual 55 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127451 Déposito Legal 471809/20 Distribuição total +5.300 envios Distribuição digital a +4.200 profissionais. Tiragem +1.100 cópias em papel Edição Número 11 – Maio de 2023 Estatuto Editorial disponível em www.agriterra.pt/EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Gráficas Andalusí, S.L. Camino Nuevo de Peligros, s/n - Pol. Zárate 18210 Peligros - Granada (España) www.graficasandalusi.com Media Partners: Membro Ativo: Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da Agriterra adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. SUMÁRIO ATUALIDADE 4 EDITORIAL 5 Universidade de Coimbra desenvolve saco protetor biodegradável para controlo de nemátodes parasitas de plantas 16 Investigadores desenvolvem sistema inovador para monitorização de plantações de milho 18 Inseticidas inspirados na Natureza 20 Setor agroalimentar aposta em tecnologias mais inovadoras para ultrapassar desafios 26 10 tendências de inovação e consumo no setor agroalimentar 28 Entrevista com Luís Mira, Administrador do CNEMA 32 Prova superada no IV Fórum Internacional das Amendoeiras 36 Revysion®: Fomos conhecer a nova geração de fungicidas 40 Yara apresenta nova gama de bioestimulantes 42 Sustentabilidade da suinicultura com licenciamento como obstáculo 44 Prémio Nacional de Agricultura distingue projetos e personalidades que mais contribuíram para o progresso do setor 48 Entrevista a Clara Campuzano, Incubation Market Lead da Yara para o sul da Europa 50 Empobrecimento dos Agricultores e Crise Alimentar? 54 Milho: fundamental aumentar o autoaprovisionamento 56 “Esperamos contribuir para um novo ecossistema alimentar” 62 Eficiência de recursos para produzir mais com menos 64 4 regras de ouro para proteger a sua cultura 70 Transição digital na fruticultura, horticultura e viticultura: Diagnóstico do sector em Portugal 74 Matrículas de tratores agrícolas: -18,6% no primeiro terço do ano 80 Chegou a hora da ceifeira- -debulhadora de cereais 82 AGCO e Bosch BASF Smart Farming unem forças na pulverização inteligente 86 Jan-Hendrik Mohr, novo CEO da Claas 88 Transforme o seu smartphone num paquímetro inteligente 90 Koppert avança para a sustentabilidade global 92 Alltech Crop Science compra Ideagro 94 ADP Fertilizantes lança novo negócio de produtos biotecnológicos 96 Petkus intensifica presença em Portugal 97
4 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER UMinho investiga tratamento de doenças da videira commicrorganismos da uva Cientistas da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM) estão a usar, em laboratório, microrganismos da superfície da uva para combater fungos da própria videira, com vista ao controlo de doenças, como a podridão cinzenta. A inovação visa a exploração de compostos que as leveduras produzem para o desenho de formulações antimicrobianas, permitindo reduzir o uso de pesticidas ou fungicidas convencionais que comprometem a sustentabilidade do setor. O segredo está na microflora (bactérias, leveduras e fungos) que habita a superfície do bago da uva. Estes microrganismos têm um papel fundamental no processo de fabrico do vinho (fermentação) e a sua diversidade e abundância variam com a fase do amadurecimento, a casta, o clima e as práticas vitícolas, entre outros fatores. “Mostrámos que algumas espécies de levedura que crescem na superfície do bago inibem o crescimento de fungos filamentosos que causam doenças”, explica o coordenador do projeto, Hernâni Gerós. “Isto abre perspetivas excelentes para o desenho de estratégias biológicas de controlo de doenças da vinha, minimizando-se o uso de fungicidas nocivos para o ambiente”, nota o professor do Departamento de Biologia da ECUM e investigador do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA). Os resultados foram publicados na revista científica OENO One - Vine and Wine. O trabalho está a ser desenvolvido em paralelo com o projeto “GrapeMicrobiota”. Liderado por Hernâni Gerós e Viviana Martins, envolve até 2024 a ECUM (líder), o Cluster da Vinha e do Vinho (ADVID) e as universidades de Saragoça (Espanha) e François-Rabelais de Tours (França), sendo cofinanciado com 250 mil euros da Fundação para a Ciência e Tecnologia. O “GrapeMicrobiota” explora a caracterização, seleção e valorização de leveduras autóctones de três castas do Douro: Touriga nacional, Sousão e Viosinho. Além do seu potencial de biocontrolo de doenças causadas por fungos, estas estirpes identificadas no bago de uva estão a ser utilizadas para produção de vinhos regionais com elevada tipicidade, em colaboração com a empresa Sogevinus, em alternativa às leveduras industriais. “Com a globalização dos métodos de cultivo da videira e de fabrico do vinho, são produzidos hoje vinhos de elevada qualidade em qualquer lado com castas reconhecidas mundialmente, mas produzir vinhos com um perfil característico da região constitui um grande desafio, daí a aposta em castas regionais. Estes vinhos com tipicidade, que refletem as características da região, do povo, dos métodos de cultura ancestrais são cada vez mais apreciados pelos consumidores”, evidencia Hernâni Gerós. Os estudos desenvolvidos pela sua equipa na região dos Vinhos Verdes, com as castas de Loureiro e Vinhão, permitiram também isolar 17 leveduras autóctones. Mostraram que a microflora da superfície da uva depende da casta e da região, e é influenciada ainda pela quantidade de pesticidas ou fungicidas aplicados na vinha. Esses resultados foram publicados igualmente na OENO One - Vine and Wine. “A diversidade da comunidade microbiana da videira pode contribuir fortemente para a tipicidade dos vinhos, uma vez que os microrganismos que vivem na superfície do bago determinam o progresso do processo fermentativo”, reforça Viviana Martins.
5 EDITORIAL Está tudo a postos para mais uma edição da Feira Nacional de Agricultura /Feira do Ribatejo, que decorre de 3 a 11 de junho no Centro Nacional de Exposições, em Santarém. O tema deste ano salta à vista: um ovo? Sim, um ovo como símbolo dos superalimentos, que estão cada vez mais na ordem do dia. Nesta edição estivemos à conversa com Luís Mira, administrador do CNEMA, e que nos revela o que a organização preparou para este ano e quais as principais questões agrícolas que vão estar em debate na FNA 2023 – e que estão relacionadas com a seca que assola o país, bem como a aplicação da nova PAC e a execução dos fundos comunitários. Outro dos destaques vai para o tomate de indústria. Num contexto desafiante, onde a gestão dos recursos hídricos irá desempenhar um papel prioritário, o setor do tomate de indústria está a transformar-se e a modernizar-se, com o foco nas tendências saudáveis e na redução do uso de fitofarmacêuticos. Nesta edição partilhamos as tendências que o setor antecipa para esta área, bem como as regras de ouro para proteger as culturas. E por falar em proteção, revelamos a investigação que está a ser desenvolvida na Universidade do Minho sobre biopesticidas derivados de plantas e as novas soluções tecnológicas de nanoencapsulamento que estão a ser desenvolvidas e podem libertar o agente ativo, por exemplo, apenas no verão. Ainda uma nota para o facto de a Europa ter deixado de ser autossuficiente para passar a ser o principal importador mundial de milho. Portugal está na mesma situação de fragilidade e falámos com várias associações que partilham a sua visão sobre como ultrapassar os desafios que vamos ter pela frente, de forma a atenuar os potenciais riscos associados. Boas leituras. FNA 2023 e a tão aguardada retoma aos anos pré-pandemia Projeto URSA: Publicadas regras gerais para compostagem de resíduos agrícolas, pecuários e agroindustriais A publicação das regras gerais para a compostagem, pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) vem clarificar e incentivar a valorização por compostagem de resíduos agrícolas, pecuários e/ou agroindustriais. A Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) tem apostado na promoção de uma economia circular através do projeto URSA (Unidades de Recirculação de Subprodutos de Alqueva), realizando, de forma comunitária, a transformação de subprodutos orgânicos de origem agrícola, pecuária e agroindustrial em fertilizante orgânico para aplicação no solo das áreas de regadio, com base numa constelação de unidades onde os materiais são permutados por composto, materializando a transição para a economia circular, através de uma agricultura moderna, sustentável e produtiva. A publicação das Regras Gerais de Compostagem Agrícola, pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) vem clarificar e incentivar a valorização por compostagem de resíduos agrícolas, pecuários e/ou agroindustriais. Pretende-se dar aos agricultores as ferramentas necessárias para optarem por um caminho circular de valorização orgânica, fundamental para a sustentabilidade da agricultura e do território rural, transformando os seus próprios subprodutos orgânicos, assumindo esta responsabilidade, mas, em simultâneo, usufruindo das vantagens de produzir parte dos seus fertilizantes, uma decisão fundamental na independência e sustentabilidade financeira do setor agrícola.
6 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Criado grupo de trabalho 'Cooperativas Agrícolas 20/30' A Ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, criou o Grupo de Trabalho 'Cooperativas Agrícolas 20|30' no qual participará, entre outros organismos, a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri). Este grupo de trabalho tem por missão a avaliação e proposta de criação de uma medida de apoio à reestruturação, redimensionamento e competitividade das cooperativas agrícolas, no quadro do PEPAC 2023-2027. “A cooperação, o diálogo e a construção participada de políticas públicas que respondam, com eficácia, aos desafios permanentes, enfrentados pelos agricultores portugueses, são peças fundamentais de um trabalho diário e inesgotável. Conscientes disto mesmo e contando com a Confagri, esta equipa irá trabalhar uma proposta específica de apoio às cooperativas agrícolas”, destacou a Ministra da Agricultura e da Alimentação. Uma vez que o setor cooperativo, no âmbito da agricultura nacional, assume uma intervenção determinante e representa quotas de mercado muito significativas nalguns setores, como as frutas e o azeite, o vinho e o leite, a Ministra considera que “o processo de modernização da agricultura portuguesa tem que ser acompanhado por um trabalho de organização económica das fileiras agropecuárias, para o qual o setor cooperativo tem condições para dar um contributo ainda mais determinante, na medida em que apresenta importantes potencialidades e vantagens, especialmente num contexto de estruturas produtivas fragmentadas, como é o caso do nosso país”. Há uma ferramenta (gratuita) que permite saber os agroquímicos que podem ser misturados com fertilizantes Se está na dúvida sobre quais os produtos que pode (e não pode) misturar e se são ou não compatíveis, a solução passa por aceder ao Yara TankmixIT. Este é um serviço gratuito que ajuda os agricultores a tomar a decisão certa antes de pulverizar os seus produtos. O serviço é estruturado com um banco de dados que contém resultados de testes de diversas misturas. Cada teste de mistura em tanque é realizado sob condições controladas nos laboratórios Yara de desenvolvimento de produtos seguindo as diretrizes BS EN ISO 9001: 2000 e representa uma medida justa do desempenho de cada mistura feita. Como os testes são feitos na base de dados on-line, ele é atualizado instantaneamente. Como usar? Basta aceder a www.tankmix.com e selecionar um país para aceder à linha de produtos adequados. A partir daqui é escolhido o produto, bem como o material de pulverização. O serviço irá gerar a lista de todos os exames laboratoriais feitos envolvendo os dois produtos selecionados e apresentando o resultado dos testes. Se a combinação necessária não for encontrada, também pode solicitar um teste de mistura. Caso os materiais de pulverização estejam disponíveis nos laboratórios Yara, um teste pode ser feito dentro de algumas horas. Além do acesso online, o serviço está disponível através de uma aplicação para IOS e Android.
7 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Governo garante 140 milhões de euros em apoios à produção agrícola O Pacto para a Estabilização e Redução de Preços dos Bens Alimentares, celebrado entre o Governo, a APED – Associação Portuguesa de Distribuição de Empresas e a CAP – Confederação de Agricultores de Portugal, materializa um reforço em 140 milhões de euros nos apoios à produção agrícola, com o objetivo de mitigar o impacto dos custos de produção, incluindo eletricidade verde, através do reforço de verbas para os setores da suinicultura, aves, ovos, bovinos, pequenos ruminantes e culturas vegetais, para o universo dos agricultores apoiados no âmbito do Pedido Único de 2022. O Governo assumiu ainda o compromisso de assegurar, em complemento, a renovação imediata do apoio extraordinário ao gasóleo agrícola, bem como do apoio para mitigar os aumentos dos custos com fertilizantes e adubos. Ficou também estabelecida a constituição de uma Comissão de Acompanhamento do Pacto, da qual fazem parte, entre outras entidades, o GPP - Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral do Ministério da Agricultura e a Confederação de Agricultores de Portugal (CAP), em representação da produção nacional. «Num contexto tão desafiante, este é um passo decisivo na garantia de mais justiça ao longo de toda a cadeia e na proteção dos direitos dos consumidores. Num esforço coletivo, estamos ao lado das pessoas e não deixamos de assegurar, aos agricultores, meios e apoios que contribuam para mitigar os efeitos deste período que vivemos», afirmou a Ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes. Em contrapartida, os produtores comprometem-se a fazer refletir o apoio recebido nos custos de produção dos produtos constantes no cabaz, de forma direta e indireta, atendendo ao ciclo natural produtivo, e a associar o apoio a uma estabilização ou, sempre que possível, a uma redução dos preços à saída da exploração. No processo de acordo foi ainda assinada pela Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), pela Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural (CNJ) e a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri), uma «Carta de Compromisso para a Estabilização e Redução dos Preços dos Bens Alimentares», envolvendo assim mais de 80% dos representantes do setor agrícola «neste grande desígnio nacional». Projeto da Universidade de Évora para certificação europeia da produção agrícola chega a Portugal A apresentação aos olivicultores do Olivares Vivos +, ummodelo de olivicultura que recupera a biodiversidade e a transforma em rentabilidade, decorre na Herdade da Fonte Santa (Mainova) Vimieiro, Arraiolos, no dia 16 de junho, pelas 9h30. Liderado no nosso país por José Manuel Herrera, investigador do Grupo de Investigação em Biodiversidade e Alterações Climáticas no Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) da Universidade de Évora (UE), em parceria com a SEO-Birdlife e a Universidad de Jaén (Espanha), o projeto conta com a participação de Portugal, Espanha, Itália e Grécia. Portugal passa assim a integrar uma rede de países europeus que vai testar e implementar um novo certificado que garanta a integração da conservação da biodiversidade na gestão do olival. O projeto teve início em 2022 e decorre até 2025. Atualmente, as explorações de demonstração a implementar o projeto em Portugal são a Herdade de Monte Ribeira, com o azeite Pousio Premium, e a Herdade da Fonte Santa, com o azeite Mainova. A participação na sessão de apresentação é gratuita, mas a inscrição é obrigatória via e-mail agroecologicalmasslab@gmail.com
8 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER AJAP promove lançamento de plataforma inédita para jovens agricultores e jovens empresários rurais A plataforma Laboratório Vivo da Agricultura 4.0 foi lançada oficialmente a 20 de março, em Ponte de Lima, num evento que marcou o arranque da divulgação nacional do projeto. Desenvolvido pela Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), o Laboratório Vivo da Agricultura 4.0 promove a capacitação e competitividade dos Jovens Agricultores (JA) e dos Jovens Empresários Rurais (JER) através da partilha e disseminação de conhecimento técnico e inovador. O Laboratório Vivo da Agricultura 4.0 já está online e disponível para todos os que pretendem reforçar competências empresariais e ter acesso a conteúdos estratégicos para a sua atividade. Através de quatro módulos de qualificação, são abrangidos os temas planeamento e capacitação, inovação e tecnologia, mercados e parcerias e empreendedorismo no espaço rural. De forma a divulgar a plataforma e aproximar os jovens agricultores e os jovens empresários rurais deste projeto, a AJAP vai dinamizar um roadshow pelas regiões norte, centro e Alentejo. Ponte de Lima foi a cidade escolhida para dar início à divulgação nacional e o evento de apresentação oficial contou com a presença do presidente do Município de Ponte de Lima, Vasco Ferraz, e do diretor geral da AJAP, Firmino Cordeiro. “É commuito entusiasmo que lançamos oficialmente o Laboratório Vivo da Agricultura 4.0, uma plataforma que pretende dotar os jovens agricultores e os jovens empresários rurais de ferramentas e informação técnica inovadora. O empreendedorismo no espaço rural e o investimento dos jovens agricultores não se fazem sem partilha de conhecimento e, com este projeto, a AJAP pretende estimular a qualificação e contribuir para a dinamização do espaço rural”, afirma Firmino Cordeiro, diretor-geral da AJAP. O Laboratório Vivo da Agricultura 4.0 é um projeto SIAC Qualificação e conta com o apoio do Portugal 2020 no âmbito do COMPETE 2020 - Programa Operacional Competitividade e Internacionalização. Arrancou em 2020 com um diagnóstico estratégico às necessidades de capacitação e qualificação, com foco nos JA e JER. Além da plataforma online, que estará funcional a partir de 20 de março, está a ser desenvolvida uma versão móvel para acesso rápido e intuitivo à informação disponibilizada. Governo limita subida do preço da água no Alqueva a 24% O Governo anunciou que o aumento do tarifário do custo da água na região do Alqueva será limitado a 24%, ao invés do aumento de 140% que ocorreria caso se aplicasse a fórmula proposta pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA) em Janeiro último. O anúncio desta limitação foi feito durante a reunião extraordinária do Conselho para o Acompanhamento do Regadio do Alqueva e que contou com a participação da ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, e do secretário de Estado da Agricultura, Gonçalo Rodrigues. Em comunicado, o Ministério da Agricultura e da Alimentação afirmou que “o aumento estabelecido para o preço da água corresponde a um valor médio de um cêntimo por metro cúbico (0,01 €/m3). Esta atualização foi feita considerando um conjunto de fatores de otimização e não da aplicação de ummodelo económico que previa umaumento na ordem de 140%. De entre os fatores de otimização do sistema, destaco a implementação de um grande projeto fotovoltaico flutuante na rede primária do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA), a expansão do empreendimento para novas áreas de regadio, envolvendo uma diluição dos custos fixos do sistema de distribuição de água, e ainda um conjunto de outras pequenas economias resultantes da gestão integrada das redes primária e secundária e das economias de escala geradas”, referiu a ministra. Maria do Céu Antunes afirmou que “tal atualização do tarifário revela-se essencial para a competitividade dos sistemas de agricultura da região de Alqueva e para a manutenção da diversificação cultural do território”, destacando “o esforço financeiro que está a ser feito, através do governo e da EDIA, para garantir o acesso à água e, consequentemente, a viabilidade das produções”.
9 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER ANIPLA lança projeto Smart Farm Hub e assina protocolos de colaboração No passado dia 20 de março, dia Mundial da Agricultura, a ANIPLA anunciou um importante passo rumo à defesa da sustentabilidade e à criação de sistemas de cooperação entre organismos e entidades do setor: o SMART FARM HUB, o novo projeto da ANIPLA que visa a cooperação entre entidades intervenientes na proteção das plantas com vista a uma agricultura feita de cada vez mais “Smart Farmers”. A apresentação decorreu na Companhia das Lezírias, com a presença do Diretor Geral da Croplife Europe, Olivier de Matos, que testemunhou a assinatura dos primeiros quatro protocolos de cooperação – com o CIB, o InnovPlantProtect, a APOSOLO e o Smart Farm Colab – com vista à criação das primeiras sinergias e planos de trabalho conjuntos que, na área dos Biopesticidas, Biotecnologia, Conservação do Solo e Agricultura Digital e Precisão, permitirão promover junto do setor práticas ainda mais sustentáveis. O SMART FARM HUB pretende criar um espaço de diálogo, partilha e reflexão acerca do que é a agricultura moderna e de como se pratica, dando prioridade a ferramentas e práticas que permitam aumentar o rendimento das culturas de forma segura e sustentável, protegendo o ambiente e, por isso, "estas serão as primeiras quatro assinaturas e compromissos que se pretendem para o desenvolvimento do projeto", refere João Cardoso, Diretor Executivo da ANIPLA. Estudantes do Instituto Politécnico de Bragança vencem 6ª edição das 24H Agricultura Syngenta A 6ª edição das 24H Agricultura Syngenta reuniu cerca de 100 estudantes, de 11 instituições de ensino de Ciências Agrárias do país, nos dias 1 e 2 de abril, na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança (ESA-IPB), para a maior competição formativa alguma vez realizada em Portugal nesta área, este ano sob o tema Agricultura Regenerativa. O primeiro prémio foi conquistado pelos estudantes Cristiano Moisés, Diogo Angélico, Miguel Sobral, Carlos Lopes e Santiago Fernandez, alunos da ESA-IPB, a escola anfitriã. A equipa composta pelos estudantes Leonor Jacob, Silvana Chaves, Francisco Duarte e José Neves, alunos da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), foi a 2º classificada. E a equipa composta pelos estudantes Gonçalo Costa, José Oliveira, Artur Morais, Joana Simões e António Ferreira, alunos da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viseu (ESA-IPV), obteve o 3º lugar na competição. Participaram na 6ª edição das 24H Agricultura Syngenta estudantes das Escolas Superiores Agrárias dos Institutos Politécnicos de Bragança, Viseu e Coimbra, da UTAD, do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, da Universidade do Algarve, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e de quatro escolas profissionais agrícolas: Baixo Mondego, Vagos, Fermil (Engº Silva Nunes) e Carvalhais. Durante 24 horas consecutivas, os estudantes realizaram 33 provas, de campo e teóricas, trabalhando competências comportamentais (gestão de tempo, trabalho em equipa, negociação, criatividade, entre outras) e competências técnicas de gestão agrícola. As provas técnicas foram organizadas em torno dos cinco pilares da Agricultura Regenerativa: Cobertura vegetal permanente do solo; Diversificação, consociação e rotação de culturas; Aplicação precisa de fatores de produção; Distúrbio mínimo do solo e Integração de animais no sistema agrícola.
10 ATUALIDADE Estudo revela que culturas de frutos secos em Portugal são as mais eficientes no uso da água e eficiência sustentável O estudo sobre as necessidades hídricas das culturas de frutos secos nas principais zonas de produção do país, desenvolvido pela Portugal Nuts em parceria com a Real Academia de Ingeneria de Madrid, e apresentado durante o II Congresso da Associação de Promoção de Frutos Secos em Beja, revela que o uso de água nas práticas culturais relativas aos pomares de frutos secos em Portugal é bastante eficiente e environmental friendly, dado que a tecnologia utilizada neste tipo de cultura necessita de menos água por kg de frutos secos produzidos (comparativamente aos EUA), uma vez que faz uma monitorização permanente dos fatores produtivos de modo a produzir de forma sustentável.
11 ATUALIDADE Uma cultura que acrescenta muito valor ao uso da água, um recurso escasso e em particular no Alentejo, onde houve um grande investimento público na Barragem do Alqueva, a fim de impulsionar a atividade económica da região e acrescentar valor a uma balança comercial positiva. “Este estudo veio demonstrar que há uma boa eficiência dos recursos hídricos na cultura de frutos secos e que o caso do Alqueva é um bom exemplo do que deveríamos fazer noutras regiões do país para resistir a períodos de seca prolongados, uma vez que a região demostra que está preparada para resistir a três anos de seca seguidos e continuar a regar o volume que lhe está atribuído”, referiu Tiago Costa, Presidente da Portugal Nuts. Cultura muito bem-adaptada, ainda que recente, quando comparado com os EUA, permitindo que se utilize face à nossa realidade uma cultura de rega gota-a-gota que garante maiores vantagens no consumo de água. Foi também dimensionado todos os sistemas reduzindo as necessidades hídricas das plantas de acordo com a necessidade do momento, procedendo a uma gestão da água de forma regulada e controlada evitando perdas desnecessárias, já que se recorre a um sistema de pressão eficiente. O valor demercado dos produtos secos em Portugal faz que tenha um valor sustentável a vários níveis e, por isso, a Associação defende que há qualidade de produção de frutos face ao clima, solo e água despendida, quando comparado com países como a Austrália e EUA, permitindo que sejamos mais competitivos. A autossuficiência de Portugal no mercado das amêndoas revela que os objetivos foram inclusive superados e excendentários contribuindo para uma balança comercial positiva, com uma exportação de real peso face ao ano transato. Hoje, na zona do Alqueva, falamos de valores de 25 mil hectares de amendoal. Ao mesmo tempo que contribui para o desenvolvimento de outras indústrias (como o descasque) garantindo oportunidades de empregabilidade neste setor. Nummomento que atravessamos custos de produção de 30% a 40%, este tem sido um setor que pouco tem penalizado o consumidor na aquisição da matéria-prima, já que ao haver um valor excedentário do produto é possível colocar em comercialização valores praticados no passado. No decorrer do II Congresso Portugal Nuts, temas como inovação, sustentabilidade e mercados internacionais foramalvo de discussão em três mesas redondas. A primeira mesa-redonda ‘A Água e o Setor dos Frutos Secos’ contou com a participação de Isabel Martins (Revista Sustentável), José Pedro Salema (Presidente EDIA), Pedro do Carmo (Coordenador da Comissão de Agricultura do Parlamento) e Tomás Tenreiro (SISTAGRO) que debateram os resultados do estudo sobre as necessidades hídricas nas culturas de frutos secos. Seguidamente, após a pausa para café e network, a mesa-redonda ‘Inovação e Sustentabilidade no Setor dos Frutos Secos’ contou com a participação de Pedro Pimentel (Centromarca), Filipa Saldanha (responsável de sustentabilidade do Crédito Agrícola) e Pedro Neto (vereador da CM do Fundão). Participou remotamente Rui Coutinho, professor da NOVA SBE, reconhecido innovation advisory. No último painel do evento, relativo ao tema de ‘Mercados de Frutos Secos: Tendências Nacionais e Internacionais’, participaram Bill Harp (Ex-Presidente Almond Board California e atual investidor em Portugal em frutos secos), José Luis Bosch (Coordenador da DESCASCALMENDRA) e ainda Tim Jackson (Presidente do Almond Board of Australia) que partilhou algumas palavras por vídeo, bem como Joan Fortuny Queralt (De Prado Almonds). A sessão terminou com ummomento ‘Amigos Portugal Nuts’, um projeto de responsabilidade social que se realizou este ano pela primeira vez e que pretende atribuir um donativo a instituições de solidariedade social. Na edição deste ano foi atribuído ao Centro de Acolhimento Temporário de Crianças em Risco “A Buganvília”. A Portugal Nuts, Associação de Promoção dos Frutos Secos, representa atualmente 50 associados, desde produtores a processadores, e cobrindo cerca de 15 mil hectares de terreno. A Associação tem como objetivo o estudo, experimentação, demonstração e divulgação de práticas culturais adequadas à realidade nacional dos pomares de frutos secos, e que conduzam ao aumento da competitividade dos seus associados, bem como a defesa e representação dos interesses dos associados junto de todas as entidades, oficiais ou privadas, de âmbito nacional ou internacional. n “Este estudo veio demonstrar que há uma boa eficiência dos recursos hídricos na cultura de frutos secos e que o caso do Alqueva é um bom exemplo do que deveríamos fazer noutras regiões do país para resistir a períodos de seca prolongados", destacou Tiago Costa, Presidente da Portugal Nuts
12 MERCADO VOLUNTÁRIO DE CARBONO Fundação Repsol e Ministério do Ambiente e Ação Climática promovem o maior projeto de reflorestação em Portugal O Ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, e o Presidente da Repsol, Antonio Brufau, assinaram um acordo estratégico para desenvolver projetos de reflorestação de grande escala em Portugal, através do projeto Motor Verde +Floresta. No ato de apresentação participaram também o Primeiro-Ministro António Costa e o Ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva. Graças à ação natural das árvores, que absorvem o carbono da atmosfera e fixam-no nos seus tecidos para que possam crescer, este projeto permitirá compensar mais de 25 milhões de toneladas de CO₂.
13 MERCADO VOLUNTÁRIO DE CARBONO A ambição é investir mais de 400 milhões de euros e reflorestar 100 mil hectares de terrenos ardidos ou baldios em Portugal, contribuído para a absorção de 25 milhões de toneladas de carbono, com a plantação de mais de 90 milhões de árvores nos próximos anos. Com o projeto Motor Verde +Floresta prevê-se criar milhares de oportunidades de emprego local e inclusivo, especialmente nas zonas rurais do país. Além disso, a Fundação Repsol disponibilizará programas de formação para promover a empregabilidade e fomentar o empreendedorismo no meio rural. Neste projeto, a Fundação Repsol colaborará com entidades públicas e especialistas florestais portugueses, bem como com proprietários privados, contribuído para a coesão social e do território, a fim de promover o cuidado e a manutenção dos terrenos reflorestados. OPresidente da Repsol, Antonio Brufau, afirmou que "o Motor Verde +Floresta representa uma grande oportunidade para o desenvolvimento do mercado voluntário de carbono em Portugal e que está grato pelo empenho e apoio institucional recebido por parte das autoridades portuguesas". A ambição do Motor Verde +Floresta “representa um antes e um depois no desenvolvimento domercado europeu de carbono, mais concretamente na liderança de Portugal e da Península Ibérica como reservatório natural de carbono”, comentou Brufau. A captura de CO₂ por meios naturais, como as florestas, apoiada por tecnologia de satélite para o controlo e monitorização do desenvolvimento das massas florestais, é sem dúvida uma grande oportunidade para a economia e para os desafios dos nossos países em termos de transição energética", salientou o Presidente da Repsol. Este projeto pretende promover o mercado voluntário de carbono, concretizando projetos de reflorestação de alta qualidade, de acordo com os mais elevados padrões de qualidade a nível nacional e internacional, que vai contribuir para posicionar a Península Ibérica, concretamente Portugal, como um reservatório de carbono relevante na Europa. Com os trabalhos de reflorestação vai ser possível gerar milhares de oportunidades de emprego local e inclusivo, e promover-se-á a colaboração com a administração pública e entidades sociais para promover a contratação de grupos vulneráveis. Do mesmo modo, também associado ao projeto, a Fundação Repsol colocará em marcha um programa com diferentes iniciativas formativas para melhorar a empregabilidade no setor florestal e promover o empreendedorismo verde entre os habitantes das zonas onde decorra a reflorestação. O desenvolvimento do projeto contará com empresas locais, que através do incentivo à criação de novos negócios ligados ao setor florestal, ajudarão a promover a economia local, e na atração de atividade económica e riqueza nas comunidades envolventes. Da esquerda para a direita, António Brufau, Presidente da Repsol, Duarte Cordeiro, Ministro do Ambiente e Jaime Rábago, diretor da Silvestris.
14 MERCADO VOLUNTÁRIO DE CARBONO Outro dos aspetos-chave do projeto é a aplicação de tecnologia no setor florestal. OMotor Verde +Floresta conta com o apoio da Hispasat, um parceiro tecnológico de referência, através do qual se tem utilizado tecnologia de satélite para a proteção integral das florestas contra incêndios e para a monitorização do crescimento das massas florestais, o que é fundamental para fornecer rigor ao mercado de compensação voluntária de emissões. Além disso, a implantação desta tecnologia tornará possível levar conectividade WiFi de banda larga gratuita aos habitantes das zonas remotas onde as plantações são realizadas, promovendo a coesão social e digital. O objetivo é desenvolver um projeto- -piloto nos próximos anos no Norte do país, reflorestando uma área de 5.000-10.000 hectares com mais de 9.000 árvores de espécies autóctones, que permitirão a absorção de 2,5 milhões de toneladas de CO₂, gerando um impacto positivo e significativo no emprego e na economia local. Já estão em curso trabalhos numa área de 58,5 hectares em Alpedrinha, Cardigos e Sardoal, afetados por dois incêndios em 2017 e 2019. Para a certificação internacional deste projeto de absorção, os projetos estão a desenvolver-se de acordo com as normas de Verra, numprojeto-piloto para certificar o primeiro projeto em Portugal com créditos VCS (Verified Carbon Standard). ESTRATÉGIA DO GOVERNO EM MATÉRIA AMBIENTAL O Governo português demonstrou um compromisso evidente contra as alterações climáticas, e está a desenvolver um Decreto-Lei para promover o mercado voluntário de carbono com o objetivo de promover a participação de organizações públicas e privadas na ação contra as alterações climáticas. O regulamento está focado em soluções climáticas naturais, em particular a reflorestação, através da regulamentação de normas que garantam a qualidade dos projetos de absorção, proporcionando a transparência e integridade que o mercado exige. Com o projeto Motor Verde +Floresta será possível trabalhar na valorização dos recursos naturais e no desenvolvimento de zonas rurais, apoiando o setor florestal português, enquanto se dá resposta ao compromisso das empresas para atingir zero emissões líquidas e aos compromissos adquiridos através do Acordo de Paris. Além disso, tentará alcançar-se a coordenação com os proprietários privados com o objetivo de articular a coesão do território e assegurar a manutenção e o cuidar dos terrenos reflorestados. Durante a conferência, o Diretor-Geral da Fundação Repsol, António Calçada de Sá, apresentou o projeto em pormenor, seguido de umamesa-redonda sobre reflorestação e mercados de carbono em Portugal, com a participação do Secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas, João Paulo Catarino, o Diretor do Grupo Sylvestris, Jaime Rábago, e o responsável de Estratégia da Fundação Repsol, Vega Tapia. Os participantes destacaram o grande potencial de Península Ibérica como um reservatório de carbono de referência na Europa, bem como a necessidade de homogeneizar normas e apostar em medidas de apoio que promovam o mercado voluntário de carbono. Os oradores também destacaram que a reflorestação é uma excelente alavanca para se avançar para uma economia de baixo carbono, rentável, eficiente, competitiva e escalável. FINANCIAMENTO DO PROJETO O projeto Motor Verde +Floresta é uma oportunidade para empresas e organizações mitigarem a sua pegada de carbono comprojetos de reflorestação de alta qualidade nas áreas circundantes mais próximas. A Fundação Repsol conta já com o marketplace do Motor Verde (motorverde.fundacionrepsol.com), uma ferramenta digital através da qual indivíduos e empresas podem aderir a estes projetos, e que em breve incorporará novas florestas em Portugal. Alémdisso, o financiamento dos projetos nos primeiros anos está assegurado graças ao Fundo ESG de Carbono Verde, um fundo de investimento inovador liderado pela Fundação Repsol, Crédit Agricole Indosuez e Portobello Capital, que tem 100milhões de euros para apoiar projetos de reflorestação para a compensação de carbono em Portugal e Espanha. MOTOR VERDE EM ESPANHA A Fundação Repsol, juntamente com a sua filial Grupo Sylvestris, lançou o Motor Verde em 2021, com o objetivo de promover a reflorestação como um instrumento de compensação da pegada de carbono no quadro da transição energética em curso. O Motor Verde é um projeto de triplo impacto: económico, social e ambiental, baseado na colaboração público-privada e alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a Agenda 2030 e o Pacto Verde Europeu. A parte operacional dos projetos florestais será liderada pelo Grupo Sylvestris, uma empresa em que a Fundação Repsol tem uma participação, e que tem mais de 30 anos de experiência no setor florestal. Por sua vez, o projeto Motor Verde está em curso em diferentes regiões espanholas, onde mais de 2.000 hectares de floresta foram reflorestados com sucesso, como apoio da administração pública e de empresas privadas como a Microsoft, Orange, El Corte Inglés, Caja Rural de Zamora, AstraZeneca, Banco Santander, Fundação Tierra Pura, Enagás o Ilunion, entre outras. n
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16 INVESTIGAÇÃO Universidade de Coimbra desenvolve saco protetor biodegradável para controlo de nemátodes parasitas de plantas Um grupo de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) está a desenvolver filmes biodegradáveis à base de papel reciclado, polímeros biodegradáveis e bionematodicidas (nematodicidas naturais), em formato de saco, com o objetivo de proteger, no momento da transplantação, o sistema radicular de plantas do ataque de nemátodes-das-galhas radiculares, parasitas de plantas que afetam negativamente a produção agrícola. As professoras Carla Maleira e Mara Braga, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), que estão a desenvolver filmes biodegradáveis à base de papel reciclado, polímeros biodegradáveis e bionematodicidas (nematodicidas naturais), em formato de saco, para proteger o sistema radicular de plantas do ataque de nemátodes-das-galhas radiculares.
17 INVESTIGAÇÃO Desenvolvida no âmbito do projeto “ProBag – Plant Protection Bag: a new, practical and sustainable system for plant-parasitic nematodesmanagement in conventional and family farming”, um dos vencedores do concurso “Projetos Sementes de Investigação” da Universidade de Coimbra (UC), esta estratégia de controlo inovadora, sustentável, prática e de baixo custo, está ainda a ser otimizada, mas os resultados obtidos são promissores. Tentámos encontrar uma estratégia de controlo que seja sustentável, uma vez que as já existentes e relativamente eficazes se baseiam na utilização de pesticidas químicos denominados nematodicidas, que na sua maioria têm impacto negativo seja no ambiente, seja na saúde humana”, explica Carla Maleita, investigadora do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF) da FCTUC. Desta forma, os investigadores conjugaram a reciclagem de papel com a utilização de polímeros biodegradáveis e de umbionematodicida, proveniente dos resíduos do processamento do fruto da nogueira, dando origem a um produto biodegradável, ou seja, sem impacto negativo no ambiente. Portanto, o ProBag será usado no momento da transplantação de plantas como o tomateiro, para o solo e espera-se que a libertação do composto aconteça, tanto para o interior, como para o exterior do saco. “Este irá servir inicialmente como uma espécie de barreira à entrada dos parasitas, mas a partir do momento que o bionematodicida é libertado começa a atuar sobre os organismos, provocando a sua morte e, dessa forma, as raízes estão protegidas”, descreve Carla Maleita, acrescentando que “no final da cultura este produto terá sido, totalmente ou na sua maioria, degradado por organismos não-alvo que estão no solo e fatores físicos, nomeadamente temperatura e humidade”. De acordo com os cientistas, este saco vai “impedir que os parasitas se instalem no sistema radicular da planta e completem o seu ciclo de vida. Estes nemátodes são parasitas de culturas economicamente importantes, como por exemplo batateira, cenoura, alface, tomateiro, entre muitas outras”, esclarece a investigadora da FCTUC. Assim, é possível proteger a planta num período de adaptação a novas condições, em que estará mais suscetível, favorecendo o seu desenvolvimento de forma que, mesmo que atacada por estes organismos numa fase posterior, tenha uma maior capacidade de resposta à presença dos nemátodes. “Já fizemos um teste preliminar e concluímos que os sacos terão de ser otimizados, em relação à degradação. No entanto, em nenhuma das plantas houve a reprodução de nemátodes. Portanto, os resultados são promissores”, assegura. “Um dos próximos passos é avaliar o impacto do ProBag em organismos não-alvo do solo, como as minhocas, e de que forma estas contribuempara a degradação do saco”, afirma. Segundo a equipa de investigadores, este é um projeto que poderá ter um impactopositivonos sistemas agrícolas e, consequentemente, na economia, bem comonomeioambiente. “Oimpactoserá logo na agricultura, porque estes parasitas causam grandes prejuízos no setor agrícola, afetandoaproduçãode culturas importantes. Assim, se utilizarmos estratégias sustentáveis que permitamo seu controlo na altura da plantação, há uma confiançamaior de que a produtividade das plantas venha a aumentar”, acredita. Por outro lado, “de uma forma geral, a economia continua a girar de forma favorável e reduziremos o impacto no ambiente, porque estamos a utilizar compostos “verdes'”, conclui. Este projeto conta com a participação de investigadores do Departamento de Engenharia Química, do CIEPQPF, do Departamento de Ciências da Vida, do Centre For Functional Ecology (CFE), bem como da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro. n O ProBag será usado no momento da transplantação de plantas como o tomateiro, para o solo e espera-se que a libertação do composto aconteça, tanto para o interior, como para o exterior do saco
18 INVESTIGAÇÃO Investigadores desenvolvem sistema inovador para monitorização de plantações de milho Uma equipa de investigadores do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) está a desenvolver um sistema inovador para monitorização de plantações de milho com vista à deteção precoce de anomalias nesta cultura.
19 INVESTIGAÇÃO O projeto GreenBotics, que combina robótica e agricultura de precisão, vem responder a uma série de desafios relacionados com a aplicação de novas tecnologias na monitorização precisa de plantações de milho. Assim, "pretende criar um sistema baseado em inferência probabilística espácio-temporal de múltiplas modalidades, assente em técnicas de aprendizagem computacional, robótica de campo, drones, deteção remota (satélites) e fusão sensorial", começa por explicar Cristiano Premebida, investigador do ISRe professor doDepartamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (DEEC) da FCTUC. A criação deste sistema, continua o responsável pelo projeto, "irá possibilitar a deteção precoce de anomalias em plantações de milho permitindo conter e controlar os malefícios numa fase em que estes ainda representem um impacto diminuto em termos económicos e ambientais". De acordo com o docente do DEEC, a equipa do projeto, encontra-se focada no desenvolvimento de uma nova técnica de calibração de modelos do tipo deep learning, no sentido de obter uma maior fiabilidade dos modelos e quantificação da incerteza em aplicações relacionadas com o processamento de imagens multiespectrais recolhidas com drones ou satélites. Portanto, o GreenBotics prevê a utilização de "técnicas como redes neuronais convulsionais, mecanismos de atenção, para além da inferência probabilística, calibração demodelos profundos e processamento de informaçãomultimodal. Em termos tecnológicos, temos utilizado câmaras multiespectrais, drone, robótica, rede de sensores, automatização demáquinas agrícolas, imagens de satélite", conclui Cristiano Premebida. Este projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), conta coma participação de 18 investigadores de várias instituições, nomeadamente do ISR, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra (INESC Coimbra), da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), do Centro de Estudos de Recursos Naturais – Ambiente e Sociedade (CERNAS) e do Spotlite (Aetha, Lda). Tem ainda como entidades parceiras a Direção Regional da Agricultura e Pescas do Centro, Universidade de Loughborough (Reino Unido) e CNRS/GeorgiaTech Lorraine (França). n
INVESTIGAÇÃO 20 INSETICIDAS INSPIRADOS NA NATUREZA Biopesticidas Comparados aos pesticidas sintéticos, os biopesticidas derivados de plantas (ou fitoquímicos) apresentam, à partida, menor toxicidade, são menos persistentes e biodegradáveis. Revelamos as soluções tecnológicas de nanoencapsulamento que estão a ser desenvolvidas, tais como formulações que apenas libertam o agente ativo acima de uma determinada temperatura ambiente, por exemplo, apenas no verão. Elisabete M. S. Castanheira Coutinho1 e M. Sameiro T. Gonçalves2 1 Centro de Física, Escola de Ciências da Universidade do Minho 2 Centro de Química, Escola de Ciências da Universidade do Minho
INVESTIGAÇÃO 21 "Comparados aos pesticidas sintéticos, os biopesticidas derivados de plantas (ou fitoquímicos) apresentam, à partida, menor toxicidade, são menos persistentes e são biodegradáveis" Todos reconhecemos que existe uma necessidade crescente de alternativas mais seguras para a proteção das culturas agrícolas. Neste contexto, as pragas de insetos são um dos maiores desafios para a produção agrícola a nível mundial. Os inseticidas desempenham um papel crítico no controlo da propagação de doenças transmitidas por insetos e na preservação da saúde das culturas. Estas substâncias químicas são formuladas especificamente para matar ou controlar populações de insetos. Porém, apesar das vantagens que os inseticidas oferecem, é imperativo reconhecer as possíveis consequências negativas sobre as espécies não-alvo, o meio ambiente e a saúde humana. Assim, o uso destes químicos está, cada vez mais, a sofrer proibições e restrições, além de que têm surgido resistências das pragas a este método de controlo, tornando os inseticidas menos eficazes. A CAMINHO DE INSETICIDAS MAIS BIOLÓGICOS As plantas são naturalmente uma fonte de compostos com atividades biológicas variadas, incluindo atividade anti-inflamatória, antioxidante, anti- -tumoral e antimicrobiana, além da atividade inseticida. A título de exemplo, a romã, o cravo-de-França, a erva-tintureira, o tojo, a camélia japónica (conhecida apenas como camélia ou japoneira) e a arruda exibem uma larga gama de atividades biológicas1-8, incluindo antibacteriana (por exemplo, a romã), antiviral2, 3 (por exemplo, romã e camélia), antifúngica4 (romã, cravo-de-França e camélia), anti-inflamatória5 (como a erva-tintureira) herbicida (tojo) e inseticida6-9 (cravo-de-França e arruda). A título de curiosidade, a Ginkgo biloba L. é uma espécie bastante rica em compostos bioativos, alguns deles também com atividade inseticida, nomeadamente os seus ácidos ginkgólicos.10 Comparados aos pesticidas sintéticos, os biopesticidas derivados de plantas (ou fitoquímicos) apresentam, à partida, menor toxicidade, são menos persistentes e são biodegradáveis11,12. Na primeira série de pesticidas botânicos que foram utilizados encontram-se as piretrinas, a nicotina e outros alcaloides. No entanto, devido à sua estabilidade ou toxicidade e efeitos adversos na saúde humana, o seu uso tem sido restrito e, apesar de uma aplicação crescente, permanecemmenos de 5% do uso total de pesticidas.13 Dentro desta vertente, os óleos essenciais, responsáveis pelo odor das plantas, adquirem grande importância, pois está comprovado que podem ter um efeito no combate a insetos e/ou outros animais prejudiciais para as culturas, sendo usados como “pesticidas verdes”, ajudando a salvaguardar a saúde humana e reduzindo o desgaste dos solos com inúmeros produtos químicos.14,15 Alguns óleos essenciais têm propriedades farmacológicas e estão inscritos na Farmacopeia Portuguesa, como o óleo essencial de limão, de alfazema, de eucalipto, de cravinho e de tomilho. Em particular, o óleo essencial do cravo-da-Índia contém eugenol, um composto de atividade inseticida amplamente comprovada.16,17 Os óleos essenciais são misturas complexas demúltiplos compostos voláteis, podendo ser extraídos por diversas técnicas, como a hidrodestilação e a destilação por arrastamento de vapor,
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